
Valeis muito mais
18 de Junho de 2020
Manso e humilde
20 de Junho de 2020DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO, ANO A
O Décimo Segundo Domingo (Ano A) mostra que a missão confiada aos discípulos (já recordada no domingo passado) não está isenta de riscos e perigos. Perante as adversidades, o Mestre insiste na confiança: «Não tenhais medo... Não temais: valeis muito mais».
‘Não temais’
O medo faz parte da nossa condição humana. Será porventura exagero ter o desejo de nunca ser invadido pelo medo. Mais sensato é reconhecer que o medo pode não ter a última palavra, que é possível impedir o medo de ser o motor da nossa maneira de viver.
Ao pensar a nossa relação de amizade com Deus, talvez a palavra ‘pecado’ seja a que primeiro surja na nossa mente, como aquilo que mais nos afasta do amor de Deus. Hoje, porém, vamos introduzir uma outra perspetiva, à qual não tenhamos dado a devida importância: o medo.
Sem darmos conta, o medo pode ser um grande impedimento para (re)começar uma relação de amizade com Deus. Porquê? Porque o medo bloqueia a confiança. Não é mero acaso o facto de Jesus Cristo insistir, uma e outra vez, em várias episódios, na importância de vencer o medo. Hoje, por exemplo, na breve passagem do evangelho, refere-o por três vezes.
O medo usa várias estratégias para se apoderar de nós. Tanto surge como uma ameaça vinda do exterior, como uma força interna que nos bloqueia e não nos deixa perceber a beleza que nos habita e dá sentido ao mundo. O medo ganha força porque anda de mão dada com o sofrimento.
Traição
Há uma forma de sofrimento que só nos pode ser causada por quem está perto de nós, pelos amigos. É verdade que são os amigos que nos conhecem melhor, sabem como somos realmente. E é por isso mesmo que só os amigos nos podem atraiçoar.
«O sentimento de ser traído não é só uma ferida, é uma cratera, um rasgão que, de alto a baixo, nos descose. [...] Tudo se desorienta. A traição estilhaça o nosso quadro interno, precipita-nos na deceção, amarra-nos a um extensa e desconhecida dor» (José Tolentino Mendonça).
É nesses momentos que precisamos de perceber que a amizade vale muito mais do que qualquer traição. Custa-nos dar mais valor ao tão grande bem que nos trazem os amigos!
‘Valeis muito mais’
Há quem não arrisque a amizade com medo da traição. Por isso, em primeiro lugar, é necessário ter confiança em si mesmo. Quem confia em si torna-se capaz de confiar nos outros. Quando surgem traições, sente que tem raízes mais profundas, é capaz de viver todas as situações com serenidade. No meio de tantas sombras, para o crente, brilha sempre uma luz de esperança: a confiança renovada em Deus.
O psicoterapeuta italiano Valerio Albisetti, num ensaio sobre a possibilidade de vencer o medo, escreve: «A partir do momento em que acreditamos que os outros nos podem ferir, teremos medo de ser feridos […]. O amor que Deus tem por mim tira-me o medo e deixo de ter motivos para me ferir, para me sentir não amado, para me sentir indigno. O problema da nossa infelicidade, do nosso medo e do nosso sofrimento está todo aqui: em não conseguirmos confiar em Deus». Confia! Vales muito mais aos olhos de Deus.