Nunca mais terá fome
29 de Julho de 2021Perscrutar os caminhos da vida
31 de Julho de 2021DÉCIMO OITAVO DOMINGO, ANO B
O alimento serve para colocar a questão de fundo sobre a confiança em Deus. Jesus Cristo convida a multidão a repensar o caminho da fé. E apresenta-se a si próprio como «o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».
‘Nunca mais terá fome’
O discurso sobre o pão da vida (no sexto capítulo do evangelho segundo João) é composto por um conjunto de diálogos, cada um deles mais denso que o anterior, para aprofundar o sentido da multiplicação dos pães como símbolo da eucaristia.
O trecho selecionado para o Décimo Oitavo Domingo (Ano B) é introduzido pelo desejo desmedido da multidão em encontrar Jesus Cristo. Uma busca interesseira que o Mestre orienta para a fé no «alimento que dura até à vida eterna».
Aquela gente procurava Jesus Cristo porque queria mais pão, alimento material; o Mestre desafia a desejar o alimento espiritual. Jesus Cristo parte do (acontecimento) visível para sugerir o (dom) invisível. A revelação surge no final: «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».
Há um alimento que perece (em pouco tempo) e outro que perdura (até à vida eterna). Há duas dimensões da nossa existência: a material (que perece) e a espiritual (que é eterna). Que tipo de alimento (mais) procuramos?
O foco exagerado nos benefícios imediatos pode privar-nos de perceber o que é mais importante, a única realidade que a tudo garante sentido: a vida que Deus nos dá através de Jesus Cristo, dádiva essa que recebemos pela comunhão do pão consagrado na eucaristia. É o pão da vida. Supera o pão que procede dos grãos de trigo e até o alimento que caiu do céu, aquando da travessia do deserto (na primeira leitura).
O pão eucarístico é puro dom; é pão que «desce do Céu para dar a vida ao mundo», para fortalecer a vida espiritual. Não é fruto da generosidade humana; é exclusivo dom de Deus.
A eucaristia ultrapassa os nossos méritos com a superabundância da gratuidade divina. Deus é o anfitrião. Prepara para nós uma refeição. O determinante é o que Deus faz para nós. Da nossa parte, o decisivo é permitir-se ser inundado pela graça de Deus. Quem se dispõe a acolher esse dom, «quem vem a Mim» - diz Jesus Cristo, «nunca mais terá fome».
Banquete celestial
A eucaristia é memória do passado e atualização presente do mistério pascal, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. A eucaristia é também evocação do futuro, abertura à eternidade. Antecipa o banquete celestial.
Somos peregrinos a caminho da casa do Pai que vem ao nosso encontro. O compromisso dos peregrinos é chegar à meta, não ficar entretidos pelo caminho ou muito menos, perdidos, desviarem-se do itinerário.
A participação na eucaristia infunde em nós o desejo da vida eterna, agora pela transformação espiritual, de modo a ver o ‘rosto’ de Deus. Não vamos à eucaristia para oferecer algo a Deus. Vamos à eucaristia, como famintos, para sermos saciados. É Jesus Cristo quem o promete: «nunca mais terá fome... nunca mais terá sede».