
Até que a morte nos una
30 de Outubro de 2020
Todos os Santos, solenidade
31 de Outubro de 2020Pelo que sabemos, a vida plena em Deus implica ‘deixar’ este tempo e este mundo. A morte afigura-se como o (único) caminho possível para entrar nos céus, mergulhar no eterno de Deus. Unidos a Deus, sem fissuras no amor, a turbulência e a tristeza da morte dão lugar à esperança e à paz, até à alegria, no caminho para a vida.
MORTE
A investigação científica e a reflexão motivadas pela busca humana do sentido da vida são uma tentativa para perceber a realidade e descobrir a verdade. É neste contexto que podemos situar as interrogações sobre a morte.
A teologia, sem negar a realidade da morte, busca uma resposta no caminho para o encontro definitivo com Deus. Neste sentido, além de acolher a morte como um momento doloroso, abre também uma via para a esperança.
A morte é natural à condição finita que caracteriza a existência terrena. É consequência do nascimento (neste mundo), da caducidade a que estão submetidas todas as coisas criadas. Às razões biológicas, os cristãos acrescentamos outras que podemos classificar como teológicas.
À luz da fé cristã, a evidência da morte é assumida, não como tragédia fatal, mas como etapa, a última, no caminho para o encontro definitivo com Deus, a eternidade. Para nós, a imortalidade ou vitória sobre a morte só é possível como participação completa na vida divina.
Pelo que sabemos, a vida plena em Deus implica ‘deixar’ este tempo e este mundo. Pelo que sabemos, o único modo de sair deste tempo e deste mundo é deixando-o, morrendo. A morte afigura-se como o (único) caminho possível para entrar nos céus, mergulhar no eterno de Deus.
Esta é uma diferença fundamental entre os cristãos e os que não acreditam no Deus de Jesus Cristo. Quem está convencido de que a morte é uma etapa para a eternidade, não morre (nem vive) da mesma maneira, mais ainda aqueles que mais experienciam o amor divino.
Alguns dos que vivem tão intensamente esse amor chegam a um intenso desejo, como Paulo na Carta aos Filipenses (capítulo 1, versículos 21 a 23): «para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. [...] Tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muitíssimo melhor».
Santa Teresa, no poema Vivo sem viver em mim, exprime a mesma paixão e confiança, a ponto de desejar a ‘doce’ morte: «porque morrendo, o viver / me assegura a esperança; / morte do viver s’alcança; / [...] / que morro porque não morro».
Unidos a Deus, sem fissuras no amor, a turbulência e a tristeza da morte dão lugar à esperança e à paz, até à alegria, no caminho para a vida.