
A falta de fé daquela gente
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A dificuldade em ser profeta ou, noutros termos, os contratempos no testemunho quotidiano da fé constitui a unidade temática deste domingo. Situação que, porventura, se repete no seio das nossas famílias e das comunidades paroquiais…
‘A falta de fé daquela gente’
Jesus Cristo, ao voltar à terra em que cresceu, Nazaré, é desprezado «entre os seus parentes e em sua casa». A conclusão é muito dura: «Estava admirado com a falta de fé daquela gente».
O conhecimento que tinham (eram vizinhos ou familiares, cresceram juntos, brincaram nos mesmos sítios, alguns acompanharam-no durante trinta anos), em vez de ser uma vantagem torna-se um empecilho para acolher os sinais divinos realizados através de Jesus.
Com o coração fechado, aquelas pessoas reagem com perguntas que são mais afirmações desconfiadas do que a sincera busca de respostas; expressam desconfiança e ironia que, juntas, estão mais do lado da rejeição do que da aceitação.
Algumas pessoas continuam a reclamar a necessidade de provas para acreditarem e não se dão conta de que o problema delas é terem o coração fechado ao dom de Deus. Tal e qual como aqueles habitantes de Nazaré, na Galileia.
A desconfiança impede a fecundidade da vida, torna-nos estéreis. «Não há nada pior que semear e fomentar a desconfiança. Ao contrário, podemos fomentar a confiança em toda a parte onde seja possível. Ela continuará a ser para nós um dos maiores dons, entre os mais raros e belos» (Dietrich Bonhoeffer).
A fé não se circunscreve a uma lógica segundo as regras humanas; não se detém em créditos familiares ou universitários. A experiência de fé rege-se pelos critérios da confiança e da entrega, da surpresa e do espanto, manifesta-se como novo modo de interpretar a realidade, a partir da presença salvadora de Deus.
A fé como confiança não está na clareza das respostas predefinidas e definitivas, não está nas supostas seguranças de que tudo vai correr sempre sem problemas. Está na sinceridade do coração que vacila e confia, em busca permanente.
Este ‘episódio’ serve de alerta, a nós que até sabemos algumas ou muitas coisas sobre Jesus Cristo. Somos hoje os seus ‘conterrâneos’, a sua família. Não pensemos que o facto de conhecermos Jesus Cristo é suficiente para vivermos como cristãos!
Paradoxo
A fé cristã não se encerra num catálogo de dogmas, um conjunto de conhecimentos adquiridos e confirmados apenas pela inteligência. A fé também não é um sentimento delicodoce que anula qualquer forma de privação ou provação, hostilidade e sofrimento.
Quando nos julgamos detentores de todas as respostas ou quando mergulhamos na armadilha da positividade tóxica, estamos muito perto ou já em atitude de ‘falta de fé’.
A pretensão de tudo querer controlar impede de acolher a surpresa e o dom. Essa é a característica própria da ‘falta de fé’. O crente, ao contrário, permanece aberto à novidade, mesmo quando lhe chega de maneira mais ou menos enigmática. A fé cristã vive-se no paradoxo da fraqueza que se torna força, da vitória mediante a derrota.