Abraçados pelo essencial
29 de Junho de 2021Paradoxo
2 de Julho de 2021DÉCIMO QUARTO DOMINGO, ANO B
A dificuldade em ser profeta ou, noutros termos, os contratempos no testemunho quotidiano da fé constitui a unidade temática deste domingo. «Piedade, Senhor, tende piedade de nós, porque estamos saturados de desprezo». Situação que, porventura, se repete no seio das nossas famílias e das comunidades paroquiais…
O profeta Ezequiel também foi confrontado com um ambiente hostil: «Podem escutar-te ou não – porque são uma casa de rebeldes –, mas saberão que há um profeta no meio deles». Paulo, ao esbarrar com a oposição de alguns dos seus ouvintes, reconhece a força que lhe vem de Deus: «Ele disse-me: ‘Basta-te a minha graça’». E o próprio Jesus Cristo, rejeitado pelos seus conterrâneos, «estava admirado com a falta de fé daquela gente».
A fé cristã não se encerra num catálogo de dogmas, um conjunto de conhecimentos adquiridos e confirmados apenas pela inteligência. A fé também não é um sentimento delicodoce que anula qualquer forma de privação ou provação, hostilidade e sofrimento.
Quando nos julgamos detentores de todas as respostas ou quando mergulhamos na armadilha da positividade tóxica, estamos muito perto ou já em atitude de ‘falta de fé’.
A pretensão de tudo querer controlar impede de acolher a surpresa e o dom. Essa é a característica própria da ‘falta de fé’. O crente, ao contrário, permanece aberto à novidade, mesmo quando lhe chega de maneira mais ou menos enigmática. A fé cristã vive-se no paradoxo da fraqueza que se torna força, da vitória mediante a derrota.