
Segundo Domingo da Quaresma, Ano B
27 de Fevereiro de 2021
Aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos
4 de Março de 2021A penitência e a conversão só podem ser bem entendidas em sintonia com a fé. Ora, se a fé é voltar-se, sem reservas, para Deus, isso implica o abandono de outros modelos e projetos existenciais, a renúncia a outras maneiras de orientar o caminho da vida; por exemplo: o abandono do poder e do prazer, quando tomados como fundamentos essenciais da existência humana.
PENITÊNCIA
Uma boa parte das dinâmicas quaresmais centram-se em duas atitudes que merecem a nossa reflexão: conversão e penitência.
Há muitos que as valorizam em contexto negativo: são um modo de atenuar o castigo divino, em troca de algo custoso e desagradável, ou através da privação de algo que lhes é apetecível.
A conversão e a penitência, porém, integram uma força tão positiva como o dinamismo da fé: promovem, na vida do crente, um íntegro desenvolvimento humano e espiritual.
Conversão significa voltar as costas ao mal e ao pecado, para abraçar tudo o que é bom e belo; é recomeçar ou retomar o caminho em direção ao verdadeiro bem: Deus revelado em Jesus Cristo.
Penitência, neste contexto, indica-nos que qualquer modo de conversão supõe um esforço, uma renúncia. Queiramos ou não, tudo o que tem maior valor, na nossa vida, supõe uma certa dose de compromisso e de privação.
O desportista, para alcançar um prémio, precisa de treinar, dia a dia, levar vida regrada, renunciar a todos os excessos que prejudicam o seu estado físico e mental. A Primeira Carta aos Coríntios (capítulo 9, versículo 25) lembra que «os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível».
Os termos conversão e penitência lembram-nos que a fé, a adesão incondicional a Deus, põe em crise determinadas maneiras de pensar e de agir.
A penitência e a conversão só podem ser bem entendidas em sintonia com a fé. Ora, se a fé é voltar-se, sem reservas, para Deus, isso implica o abandono de outros modelos e projetos existenciais, a renúncia a outras maneiras de orientar o caminho da vida; por exemplo: o abandono do poder e do prazer, quando tomados como fundamentos essenciais da existência humana.
Quem centra a sua vida em ídolos, como a riqueza ou o sexo, quem pensa que neles encontra os alicerces da existência, quem os considera como suporte da felicidade, está equivocado no caminho da vida. A única garantia é Deus.
A conversão e a penitência são, portanto, a outra face da fé. Sem estes elementos críticos, sem a força renovadora que daí advém, a fé perderia dinamismo existencial e a sua identidade vital.