
Décimo Quarto Domingo, Ano B
3 de Julho de 2021
Abraçastes a fé
8 de Julho de 2021Acreditar é entrar no coração das questões existenciais; dá-nos a possibilidade de plantar e fazer crescer, em nós e com os outros, a ética da proximidade, da compaixão e do bem comum.
FÉ CRISTÃ
Habitamos um mundo pós-cristão. Estamos numa mudança de época, na qual somos desafiados a reinterpretar e a ressituar o significado da proposta própria da fé cristã.
Carmelo Doloto, teólogo italiano, já em dois mil e doze propunha uma leitura da realidade a partir do conceito de pós-cristianismo: a fé cristã tornou-se marginal, deixou de ser um elemento essencial na construção da sociedade.
Em Braga, numa conferência sobre novas linguagens na transmissão da fé, deixou alguns tópicos significativos para a nossa reflexão. A fé é um movimento de procura e é também um acontecimento paradoxal: assenta numa exigência de compreensão da realidade, de modo a evidenciar uma diferença. Crer é aceitar a ousadia de pensar a vida de forma diferente.
A fé é aproximação a Deus, que está sempre para além das imagens que dele fazemos. Acreditar é aproximar-se do sonho divino para a nossa vida, aproximar-se do que Deus pensa para nós. Para o cristão, o critério de interpretação desse sonho está revelado em Jesus Cristo.
A fé é um risco, não é uma espécie de lâmpada de Aladino (que se esfrega para obter coisas), nem um seguro de vida. Crer é um abrir-se que confia, que entra em diálogo com confiança.
A fé é um ato de liberdade, pelo qual me permito ser inserido numa relação que humaniza o meu caminho de crescimento, retira-me a ilusão de que posso fazer tudo sozinho. O Deus de Jesus Cristo chama-me a uma séria responsabilidade e a uma corresponsabilidade criativa.
A fé não é passividade, é inquietação; não é uma ‘peça de roupa’ que se veste de vez em quando ou que se troca quando apetece.
A fé é a frescura de uma constante procura. Acreditar é acolher o dom de uma diferença e de uma responsabilidade por essa diferença.
A fé ensina a viver em cada tempo (cf. Tito 2, 12), conduz à (re)elaboração da minha identidade, a partir da relação com o Deus narrado em Jesus Cristo. Crer é uma contínua luta contra as falsas imagens da experiência religiosa.
Acreditar é entrar no coração das questões existenciais; dá-nos a possibilidade de plantar e fazer crescer, em nós e com os outros, a ética da proximidade, da compaixão e do bem comum.