Vigésimo Nono Domingo, Ano A
17 de Outubro de 2020Amarás
22 de Outubro de 2020A melhor sintonia possível entre o ato e o conteúdo da fé permite manter-nos firmes diante das dificuldades, porque temos um conjunto de verdades que, ainda que não a consigam expressar em pleno, porque imperfeitas, remetem para a única Verdade (com maiúscula) que sustenta a nossa vida, o objeto e a meta da nossa fé.
FÉ
Deus é o objeto e a meta da nossa fé, em quem acreditamos e confiamos, de quem tudo esperamos, por quem somos sempre amados. Jamais pode ser englobado numa fórmula, pregação, catequese, doutrina, dogma ou qualquer outra expressão verbal. Há, portanto, uma diferença significativa entre ato de fé e conteúdo da fé.
O ato de fé não se dirige aos enunciados: não acreditamos em dogmas, fórmulas, doutrinas ou palavras; acreditamos no Deus revelado em Jesus Cristo. É verdade, porém, que precisamos de recorrer a palavras para expressar o conteúdo da nossa adesão confiante a Deus.
As duas dimensões são importantes: o ato de fé, que é teologal, isto é, centrado e orientado para o Deus de Jesus Cristo; uma boa explicação dos conteúdos da fé, tendo como ponto de referência o que nos é dado a conhecer através dos evangelhos e pelos demais escritos bíblicos.
Quando esquecemos que Deus é o objeto e a meta da nossa fé e, portanto, que acreditamos em Deus e só em Deus, corremos o risco de dar às fórmulas ou aos ritos uma excessiva importância. Essa é a raiz dos fundamentalismos religiosos.
As discussões apenas focadas em fórmulas e ritos desqualificam quem se expressa com matizes ou elementos distintos, mas pouco ou nada contribuem para aproximar uns e outros de Deus.
Por outro lado, se dispensamos o conteúdo, que precisa sempre de ser esclarecido, corremos o risco de assumir um mero sentimentalismo e ficarmos com a nossa inteligência vazia.
Quando não se dispõe de uma boa explicação dos conteúdos, é fácil substituir a fé por práticas devocionais ou ritos centrados em aspetos secundários, que, em determinadas ocasiões, em vez nos orientar, até nos afastam de Deus.
A fé é vida, e também é luz, verdade, caminho. Por isso, o ato de fé necessita de se transformar em luz e caminho para a vida, bem como em verdade que satisfaça a nossa inteligência.
A melhor sintonia possível entre o ato e o conteúdo da fé permite manter-nos firmes diante das dificuldades, porque temos um conjunto de verdades que, ainda que não a consigam expressar em pleno, porque imperfeitas, remetem para a única Verdade (com maiúscula) que sustenta a nossa vida, o objeto e a meta da nossa fé.