Quero: fica limpo
11 de Fevereiro de 2021Amigos fortes de Deus
13 de Fevereiro de 2021SEXTO DOMINGO, ANO B
A palavra de Deus dá-nos como modelo de fé um leproso. O encontro pessoal com Jesus Cristo abre à possibilidade da libertação de tudo o que oprime e faz sofrer o ser humano: «Quero: fica limpo».
‘Quero: fica limpo’
Como é atual este episódio! Os constrangimentos provocados pela Covid-19 ajudam-nos a compreender um pouco melhor a situação dos leprosos: desde os primeiros relatos do Antigo Testamento (cf. o capítulo treze do livro do Levítico), eram obrigados ao confinamento e ao distanciamento social. Não admira que, também hoje, se use o termo ‘lepra’ para referir a pandemia que estamos a atravessar.
É com simplicidade e com convicção que o leproso se aproxima e pede ao Mestre e Médico, Jesus Cristo: «Se quiseres, podes curar-me».
Quantas vezes temos escutado algo semelhante: Senhor, livra-nos deste vírus que nos enfraquece e nos destrói, que nos afasta e nos mata, que nos atormenta e desumaniza. De alguns, infelizmente, continuamos também a ouvir que se trata de um terrível castigo divino por causa dos nossos pecados.
Jesus Cristo, hoje como ontem, não vai nessa onda e prefere mostrar, com palavras e atos, a compaixão e a misericórdia. Agora, vemo-lo nos nossos hospitais, em nossas casas, presente na compaixão e na misericórdia dos profissionais de saúde, dos voluntários e dos trabalhadores e trabalhadoras, dos vizinhos e amigos, em cada homem e mulher que se arrisca ao contágio por amor à vida, em favor do irmão frágil ou doente.
A doença, escreveu o Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial do Doente (que acontece a cada onze de fevereiro), «faz-nos sentir a nossa vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a necessidade natural do outro. Torna ainda mais nítida a nossa condição de criaturas, experimentando de maneira evidente a nossa dependência de Deus». Por isso, a doença também nos faz pensar «sobre o sentido da vida; uma pergunta que, na fé, se dirige a Deus», ainda que nem sempre encontremos «imediatamente uma resposta».
As curas realizadas por Jesus Cristo são sempre sinal exterior de algo mais profundo e mais importante que acontece àqueles que se deixam tocar pelo seu amor.
Queira Deus que seja esse o ‘milagre’ deste nosso tempo: a imunidade de grupo que ansiamos com a vacina, como dizia uma publicação nas redes socais, seja acompanhada também pela humanidade de grupo.
Vem aí a Quaresma!
O episódio deste domingo lembra-me o início do poema de Fernando Pessoa: «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce». A Quaresma, que aí vem, desafia-nos a ‘sonhar’ o querer de Deus, para que se realize a sua obra.
A História da Salvação mostra que Deus se implica connosco, «Deus é vida que move a vida, que faz novas todas as coisas, que abre horizontes de futuro, que volta a levantar o que está caído, que volta a pôr em movimento a existência, que não condena mas faz recomeçar, dando sempre novas oportunidades» (Paolo Scquizzato).
Caminhemos nesta Quaresma à luz da Aliança estabelecida e renovada por Deus, ao longo dos tempos, até aos nossos dias, até à nossa vida.