Basta que tenhas fé
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Jesus Cristo reconhece o desejo e acolhe o pedido de algo mais que habita em cada pessoa. Várias vezes ofereceu sinais de vida. Livrou-nos da morte para nos dar a vida. E dizia: «não temas; basta que tenhas fé».
‘Basta que tenhas fé’
Dois temas andam interligados, neste duplo episódio do evangelho segundo Marcos: a fé a vida. Jesus Cristo vem ao mundo com a missão de restaurar a fé e a vida. Com outras palavras dizemos que a ‘saúde’ (vida) e a ‘salvação’ (fé) preenchem a nossa existência terrena.
A aproximação a Jesus Cristo exprime-se como pedido e como desejo: há a palavra da súplica de Jairo em favor da sua filha; há o desejo do toque de uma mulher no meio da multidão. Dois modos diferentes, ambos acertados, de nos aproximarmos de Jesus Cristo.
Com a atitude de Jairo, podemos aprender a oração de súplica e de intercessão. A súplica e a intercessão são um modo de expressar a confiança na ação divina. O Catecismo da Igreja Católica (no número 2629) lembra que «é pela oração de petição que traduzimos a consciência da nossa relação com Deus», exprimimos a nossa fé.
Com a atitude da mulher, podemos aprender o silêncio de quem se aproxima e ousa tocar e ser tocado/a pela presença de Deus. O toque é, aliás, um elemento comum aos dois encontros com Jesus Cristo: a mulher que deseja tocar as vestes para ser curada e Jairo a pedir que imponha as mãos para que a sua filha seja salva e viva; com a mulher «Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo» e à menina «pegou-lhe na mão».
Na gramática da fé, estamos mais conformados ao poder das palavras; precisamos de valorizar também a força dos gestos, em especial o toque da imposição das mãos, não só nos sacramentos, mas também em outras orações de petição e de bênção (a que chamamos sacramentais). Conta o cardeal José Tolentino Mendonça que, num filme de Ingmar Bergman, o médico recomenda à paciente: «Há só um remédio para ti, deixa-te tocar por alguém ou por alguma coisa».
A fé tem um papel decisivo: «Minha filha, a tua fé te salvou»; «Não temas; basta que tenhas fé». Em ambos os casos, Jesus Cristo revela o coração de Deus que cura e dá vida, que harmoniza a saúde e a vida. É, como já dissemos, um texto revelador da missão de Jesus Cristo; porém, há que ter fé.
Um pedido e um desejo
A fé ‘toca’ com seriedade os pedidos e os desejos de cada ser humano. Não se pode reduzir a uma doutrina, mais ou menos abstrata. Nem tampouco a um conjunto de práticas rituais e exteriores à vida.
A fé é um ‘basta’, garante-nos Jesus Cristo. Traduz-se em suavidade de coração que espera algo de novo da parte de Deus. Damos a Jesus Cristo o direito de entrar na nossa vida. Deixamos de ser espectadores, alguém que olha de fora, talvez à espera de respostas e de explicações.
A fé faz-nos atores, põe-nos dentro do jogo com as nossas fragilidades, implica-nos no encontro, possibilita outras leituras, ainda que sempre inacabadas. Desenvolve-se então o processo que nos toca por dentro, liberta do medo, toma pela mão e nos deixa maravilhados.