O rosto do pobre
18 de Novembro de 2023Sinal admirável
2 de Dezembro de 2023TRIGÉSIMO QUARTO DOMINGO, ANO A
Chegamos ao último domingo do ano litúrgico, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Ele é nosso companheiro de jornada, torna-se presente e visível no rosto do outro, a quem podemos amar e servir.
“A mim o (não) fizestes”
Esta é a terceira e última parábola do vigésimo quinto capítulo do evangelho segundo Mateus, que, como vimos, nos interpela sobre o modo como nos preparamos para o encontro com Deus: aquele ocasional, que pode acontecer na vivência do dia a dia; aquele definitivo, que vai acontecer no final da nossa existência terrena.
O centro é o pastor, Jesus Cristo, o bom pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, para as quais tem preparado o reino desde a fundação do mundo. O destaque vai para a divisão entre ovelhas e cabritos, entre benditos e malditos, conforme o modo como cada um viveu o mandamento do amor, priorizado na relação com os mais pequenos.
A prática das obras de misericórdia junto dos mais frágeis confirma o nosso verdadeiro amor a Deus. Nada mais nos aproxima do amor divino! É curioso que todos ficam admirados, uns por não terem percebido a profunda ligação entre o amor a Deus e o amor ao próximo, outros por não terem reconhecido a gravidade das omissões, reveladoras da dureza de coração que afasta do amor a Deus.
A descrição repetitiva não expõe um amor teórico ou abstrato. Jesus Cristo faz referência a realidades e ações concretas: dar de comer e de beber, vestir, acolher e visitar. Os destinatários também não são teóricos ou abstratos, são pessoas concretas ao alcance do nosso olhar, se não desviarmos delas o nosso rosto. Nelas está presente o próprio pastor e rei, Jesus Cristo: «A mim o (não) fizestes».
Um AMOR a descobrir
Somos fruto do amor primeiro e gratuito de Deus. Todos somos amados. Deus todo-amoroso deseja estar na nossa presença, para nos convidar a uma relação de amor. A vida é-nos dada como uma oportunidade para descobrir o amor divino, nele mergulhar, a fim de amar como Deus nos ama, a fim de amar aqueles com os quais Deus se identifica.
A tónica não está numa suposta ameaça que antecipa o encontro final, para nos encher de medo ou de angústia. Tomemos a parábola, tal como as anteriores, como uma luz de esperança e uma oportunidade de redenção. Tudo se concentra nas ações concretas vividas no encontro quotidiano com os mais frágeis, de quem nos tornamos próximos, a quem reconhecemos como irmãos, imagem e semelhança de Deus.
Há um AMOR a descobrir em cada pessoa, de modo especial nos mais pequenos, nos quais podemos reconhecer o rosto de Deus, a presença de Jesus Cristo. De facto, quando descobrimos o Amor, estamos aptos a viver repletos de alegria e de esperança. «Não é fruto do esforço humano, do engenho ou da arte. É a alegria que deriva do encontro com Cristo. A alegria cristã vem do próprio Deus, de nos sabermos amados por Ele. […] Criados por Ele à sua imagem e semelhança, podemos ser expressão do seu amor que faz nascer a alegria e a esperança, mesmo onde parece impossível» (Papa Francisco).