Felizes os que acreditam
8 de Abril de 2021Acontecimento salvífico
10 de Abril de 2021SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA, ANO B
O Segundo Domingo de Páscoa, Oitava da Páscoa e Domingo da Divina Misericórdia, é também o dia da alegria da fé. Jesus Cristo declara: «Felizes os que acreditam sem terem visto»; felizes os que colocam plena confiança em Deus, pois «é eterna a sua misericórdia».
‘Felizes os que acreditam’
O Ressuscitado ‘apresentou-se’ entre os discípulos, após o encontro pascal com Maria Madalena. Ela tinha anunciado aos discípulos: «Vi o Senhor» (no primeiro episódio desta ‘série’: Testemunhas da Páscoa). Agora, os discípulos reproduzem as mesmas palavras ao ausente Tomé: «Vimos o Senhor».
O evangelista mostra o contraste entre a tristeza e a coragem, o medo e a alegria. A presença e as palavras do Ressuscitado produzem essa renovação: «A paz esteja convosco. […] Recebei o Espírito Santo». A paz e o dom do Espírito Santo transformam o medo em alegria, a tristeza em coragem de testemunhar a todos a Boa Nova da Páscoa. Eis o perfume primaveril da renovação pascal!
A ausência de Tomé, na tarde daquele primeiro dia, impediu-o de participar neste processo pascal. Terá de ser o próprio a fazer a experiência. É certo que recebe o testemunho dos irmãos, mas só o próprio pode dar o passo da dúvida à confiança, da incredulidade à fé.
Recebemos o testemunho dos nossos pais, dos nossos padrinhos, dos nossos párocos, dos nossos catequistas, de tantos homens e mulheres, que nos precederam na fé. Este episódio de Tomé ajuda-nos a entender que não fica dispensada a experiência pessoal, o encontro pessoal com Jesus Cristo, o Crucificado e Ressuscitado.
Não basta repicar os sinos, se não tocamos os corações. Não basta ornamentar os espaços com flores, se não acolhemos o outro como irmão, sem julgamentos. É um processo interno, experiência única e pessoal, que faz acontecer o ‘ver’ da fé, o encontro pascal com Jesus Cristo.
A ressurreição não é uma evidência. Alguns desconfiaram, outros continuam a reclamar mais provas. O processo da maturação da fé continuará invadido de dúvidas, medos, incredulidades, desconfianças. São os paradoxos da bem-aventurança proclamada por Jesus Cristo: «Felizes os que acreditam»! A dúvida não é o contrário de acreditar. A dúvida é, porventura, a melhor forma de confirmar a fé, consolidar as razões do acreditar.
Tomé
Tomé converte a descrença numa profunda confissão de fé: «Meu Senhor e meu Deus!». Ele havia dito que precisava de ver e de tocar... Não sabemos se Tomé tocou nas chagas do Crucificado. Sabemos, isso sim, que foi tocado no encontro com o Ressuscitado. É dessa experiência pascal que nasce a fé.
Hoje, reconhecemos que «’ser crente’ não significa tirar de nós o fardo das perguntas cruciais para sempre. [...] A força da fé não consiste numa ‘convicção inabalável’, mas na capacidade de suportar as dúvidas, as incertezas, o peso do mistério e, mesmo assim, permanecer na fidelidade e na esperança» (Tomáš Halík).
Talvez tenhamos de reconhecer que só se avança no caminho da fé quando se assumem as dúvidas e as feridas que se manifestam na nossa humanidade.