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Cada um de nós é como uma moeda de ouro que contém gravada a imagem de Deus e a inscrição de que somos amados. Perante a tentação de nos deixarmos dominar por algo ou alguém, recordemos que apenas somos pertença de Deus.
“A Deus o que é de Deus”
O evangelho termina com uma das frases mais famosas proferidas por Jesus Cristo: «Devolvei, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus». Foi a resposta à pergunta sobre a licitude do imposto romano.
A questão, como indica o narrador, não surge do desejo de aprender a verdade. Jesus Cristo, conhecendo a maldade e a hipocrisia dos interlocutores, denuncia a intenção perversa e responde com sabedoria: a moeda que contém a imagem e a inscrição de César deve ser devolvida a César. Resolvida a contenda, o Mestre acrescenta algo que não lhe tinha sido perguntado. A interpelação sobre os direitos de César permite-lhe lembrar os direitos de Deus: o que é de Deus é para ser devolvido a Deus.
Como a moeda possui uma imagem e inscrição que remetem para César, Jesus Cristo ajuda-nos a recordar que Deus também tem inscrita a sua imagem em cada ser humano e, em certo sentido, até em todas as coisas criadas, uma vez que «há um reflexo de Deus em tudo o que existe» (Carta Encíclica sobre o Cuidado da Casa Comum, [LS] 85).
César e Deus aparecem justapostos, mas não são equivalentes ou contrários, como pretendem alguns. Deus está num nível diferente, porque todas as dimensões da vida e todas as coisas lhe pertencem, a Deus é devido o louvor de todas as criaturas.
Todo-amoroso
A grandeza de Deus não exige distanciamento. Não se trata de estar diante de um poderoso deste mundo, estamos perante Deus como seres queridos que se sabem amados, criados por e para o amor. A grandeza divina é da ordem do amor, o que a caracteriza é a intensidade do amor.
Estamos no segundo episódio da ‘série’ intitulada «Um AMOR a descobrir», com a qual queremos descobrir a essência divina. É fundamental contrariar a ideia de que a transcendência de Deus o associa a um ser longínquo e todo-poderoso, autoritário ou condescendente, um tirano que faz o que lhe apetece, que castiga ou premeia conforme a sua vontade. Infelizmente, tais representações divinas têm produzido enormes malefícios no nosso modo de pensar e de agir, em toda a nossa vida.
A Bíblia «ensina que cada ser humano é criado por amor, feito à imagem e semelhança de Deus. […] Fomos concebidos no coração de Deus e, por isso, “cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado”» (LS 65). Deus deseja estar na nossa presença, para nos convidar a uma relação de amor.
«Aquilo de que o mundo tem necessidade é do amor de Deus» (Bento XVI). A fé cristã amadurecida acontece na descoberta desse amor, de modo a vivermos uma intensa relação interpessoal com Deus, em vez de ficarmos ancorados em ideias abstratas ou princípios moralizadores. «Corações ardentes, pés ao caminho», a nossa missão é anunciar que temos gravada a imagem de Deus todo-amoroso.