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14 de Janeiro de 2020O batismo no rio Jordão é uma epifania, uma manifestação do ser divino que se faz solidário com o ser humano. Uma solidariedade profunda com a carne humana, não uma carne ideal, mas a carne humana real, que tem em si a marca do pecado. O episódio assinala que Jesus Cristo assume o batismo de penitência para o perdão dos pecados.
BATISMO DO SENHOR
A transição entre o Natal e o Tempo Comum é feita pela festa do Batismo do Senhor (Jesus Cristo).
É preciso ter em conta a particularidade deste acontecimento, e não cair na tentação de centrar as homilias deste dia no sacramento do Batismo. Não é a interpretação mais adequada.
O batismo no rio Jordão é uma epifania, uma manifestação do ser divino que se faz solidário com o ser humano. Uma solidariedade profunda com a carne humana, não uma carne ideal, mas a carne humana real, que tem em si a marca do pecado. O episódio assinala que Jesus Cristo assume o batismo de penitência para o perdão dos pecados.
Os primeiros cristãos tiveram dificuldade em compreender e aceitar este gesto divino. Há um evangelho apócrifo que, apoiado no facto de Jesus Cristo não ser pecador, nega explicitamente este batismo no rio Jordão por João Batista. A controvérsia é uma forte razão considerada pelos exegetas para afirmá-lo como um dos fatos mais ‘históricos’ da vida de Jesus, no sentido moderno que se atribui à palavra ‘história’.
Então, se Jesus foi batizado por um 'inferior' e num contexto de arrependimento e perdão dos pecados, é preciso explicar o sentido que tem e como se relaciona com o facto de Cristo ser em tudo igual a nós, exceto no pecado.
Coloca-se na fila dos pecadores, desce às profundidades da terra. O rio Jordão repousa sobre uma depressão de aproximadamente 400 metros abaixo do nível do mar, o rio mais baixo do mundo.
É curioso que esta atitude acontece num nível inferior da terra, junto dos pecadores. Aquele que não tem pecado e está acima de tudo, desloca-se para o lugar contrário ao seu por direito.
Solidariza-se com os pecadores e assume todos os pecados. Não os seus, mas os do mundo, os pecados dos seus irmãos, os nossos pecados. Por isso, é o «Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo». Para o tirar, primeiro assume-o.
É uma das expressões do alcance da Incarnação: não assume uma carne humana ideal, mas a carne da humanidade pecadora. Quando se diz que o «Verbo se fez carne», esta carne é a nossa carne, a carne pecadora. O máximo da solidariedade, o alcance do seu amor. Porque chega até aqui, tem o grande poder de tirar o pecado do mundo.