Está perto o reino dos Céus
11 de Junho de 2020Amar com todo o coração
13 de Junho de 2020DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO, ANO A
O Décimo Primeiro Domingo (Ano A) faz ressoar, em nós, as solenidades da Santíssima Trindade e do Corpo e Sangue de Cristo. É uma espécie de ‘resposta’ ao amor trinitário.
‘Proclamai que está perto o reino dos Céus’
O trecho do evangelho pode ser resumido em duas palavras: ação e missão. Da nossa parte, a ‘resposta’ ao amor de Deus, à sua amizade para connosco, dá-se no compromisso missionário ativo: «proclamai que está perto o reino dos Céus».
O envio missionário vai além das palavras e da doutrina, para tocar o coração e a vida de cada pessoa e das multidões. O anúncio (das palavras) é posto em ato pelo testemunho (das ações): «curai… ressuscitai… sarai… expulsai… dai».
Os discípulos missionários são chamados a replicar o que era feito pelo Mestre. A missão prolonga as palavras e os gestos. Agora, com ousadia e criatividade, todos somos convocados a esta ação missionária.
A pedagogia do ‘ver’
A escolha e o envio são precedidos do diagnóstico da realidade. A narração começa por recordar a maneira como Jesus Cristo olha as pessoas: «ao ver as multidões, encheu-se de compaixão». Este é seu o estilo pessoal: para Jesus Cristo, ’ver’ é entrar na vida do outro, é perceber os seus anseios mais profundos.
A profundidade do ‘ver’ resulta na compaixão. Uma lição que precisamos de aprender com o Mestre, nós que somos seus discípulos: olhar o outro com compaixão, sem julgamento, permite fazer uma viagem ao interior em busca da totalidade da pessoa.
A superficialidade do ‘ver’ conduz-nos a juízos utilitários, a preconceitos, sem espaço para acolher a interioridade, não permite contemplar o outro além das aparências, para perceber as suas fadigas e desorientação.
O olhar compassivo de Jesus Cristo revela uma amizade gratuita e universal. Talvez seja também esta a maior urgência deste nosso tempo. Talvez, mais do que a pureza dos ritos e normas, mais do que a eloquência das palavras e da doutrina, seja necessário treinar o ‘ver’ com compaixão para alcançar uma amizade gratuita e universal.
A amizade começa quando assumimos uma nova maneira de ‘ver’ o outro. Sem amizade, vemos o outro de modo parcial, preconceituoso, reduzimo-lo às aparências, avaliamos apenas os seus aspetos negativos, desvalorizamos as suas necessidades, empobrecemos a sua identidade.
Testemunhas
«Viver sem amigos, é morrer sem testemunhas», diz o provérbio. Quem experimenta a amizade com Deus, torna-se sua testemunha. Aqui, mais do que as palavras, valem as obras. Não admira que, no evangelho, a proximidade do reino dos Céus seja expressa pela cura dos enfermos, a ressurreição dos mortos, a expulsão dos demónios, a dádiva gratuita.
«Os discípulos podem ser investidos como testemunhas, porque viveram uma história de amizade de que se tornam portadores» (José Tolentino Mendonça, Nenhum caminho será longo, Paulinas Editora).
Agora, é a nossa vez: somos enviados a testemunhar a amizade, a conduzir os amigos até ao Amigo. Podemos não ter mais nada para dar, mas podemos dar tudo com a nossa presença e amizade.