Pequeninos
7 de Julho de 2023Conviver com as sombras
21 de Julho de 2023DÉCIMO QUINTO DOMINGO, ANO A
Jesus Cristo é o semeador dos sonhos de Deus, é como a chuva que irriga a terra, o amor que fecunda a vida, a semente que germina no coração, a colheita que a todos surpreende com os seus frutos.
“Este dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta”
O discurso das parábolas ocupa o décimo terceiro capítulo do evangelho segundo Mateus. Jesus Cristo foi um Mestre na arte de contar parábolas. A partir de histórias simples, propõe algo inesperado que surpreende os ouvintes.
Vale a pena semear, mesmo que uma parte considerável das sementes esteja destinada ao fracasso: a voracidade dos pássaros, o sol escaldante, as sombras dos arbustos espinhosos, são alguns dos obstáculos ao germinar das sementes; o coração inclinado para o mal, a instabilidade causada pelas tribulações, o sufoco das preocupações, a sedução das riquezas, são alguns dos obstáculos ao frutificar da vida.
À primeira vista, Jesus Cristo apresenta uma estatística pouco tranquilizadora: 75% da semente é perdida e apenas uns míseros 25% têm possibilidade de dar fruto. Acresce que, desta pequena porção, nem todas frutificam em semelhantes quantidades. Apesar de tudo, vale sempre a pena semear, porque algumas sementes podem germinar e gerar fruto em cem, sessenta ou trinta.
A constatação desagradável dos primeiros resultados é vencida pelo desfecho gracioso de uma parte da «palavra do reino» que cai em boa terra e dá fruto: «O que foi semeado em terra boa, este é o que ouve a palavra e a entende, e este dá fruto e produz ora cem, ora sessenta, ora trinta».
Semeador generoso
A parábola do semeador convida-nos a olhar para a nossa existência com esperança. O centro não são os nossos insucessos. O protagonista é Deus, o protagonista é o semeador generoso e obstinado em fecundar a nossa vida. Apesar da nossa grande aridez, o semeador jamais desiste de lançar a semente. Que regalo pensar num Deus assim! Que alegria escutar esta parábola como uma imagem da minha vida!
«Comove-me este Deus que em mim semeou tanto para obter tão pouco. […] Gosto tanto deste Jesus que fala em parábolas. A parábola faz falar a vida. […] Se tivéssemos a profundidade do olhar de Jesus, então também nós, nesta vida, comporíamos parábolas, falaríamos de Deus com parábolas e poesia» (Ermes Ronchi), aceitaríamos a nossa integridade imperfeita como abertura ao milagre da nossa própria transfiguração.
A ‘série’ que hoje iniciamos convida-nos a olhar para dentro de nós, para o mistério do ser humano, de modo a reconhecer que cada um contém luzes e sombras, somos feitos de fracassos e de triunfos. Conviver com as sombras é reconhecer e assumir o nosso lado mal amado, porque, apesar de tudo, graças à generosidade divina, há sempre possibilidade de crescimento e de amadurecimento. Precisamos de reconhecer dentro de nós as luzes e as trevas, o preto e o branco, o bem e o mal, a sombra e o esplendor. É nesta integridade imperfeita que, em algum momento, pode acontecer o milagre: dar fruto e produzir ora cem, ora sessenta, ora trinta.