Abraçastes a fé
8 de Julho de 2021Impregnados do Espírito Santo
10 de Julho de 2021DÉCIMO QUINTO DOMINGO, ANO B
Aos que «abraçastes a fé», nada vos pode deter: sois aqueles que Deus «abençoou… escolheu… predestinou... deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade». Contudo, a Escritura alerta para a árdua condição dos ‘enviados’ em nome da fé.
‘Abraçastes a fé’
Deus chama os profetas, como Amós, Jesus Cristo chama os Doze, e também nós somos chamados a participar da missão. Chamados para ser enviados. A vocação e a missão estão interligadas. Paulo recorda-o de forma magnífica na Carta aos Efésios.
O início da Carta recolhe um hino de ação de graças de uma profunda beleza. O nosso louvor dirige-se ao Pai, de quem procede a iniciativa do processo salvador. O Pai, através de Jesus Cristo e do Espírito Santo, implica-nos a todos, os que «abraçastes a fé». Pela densidade do conteúdo, vale a pena reler com atenção (versículos 3 a 14 do primeiro capítulo da Carta aos Efésios), de modo a fazer dele a nossa oração e proclamação de fé.
Somos todos fruto de um chamamento, uma escolha que parte do coração de Deus. Somos todos abençoados pelo amor, que nos faz ‘herdeiros’ da renovação inaugurada pela morte e ressurreição de Jesus Cristo. Graças a esta vontade divina, podemos ‘abraçar’ a fé.
Percebemos aqui um verdadeiro jogo de sedução, uma bênção de amor, de parte a parte. Tantas vezes ouvimos falar da fé como uma coisa pesada e complicada, ligada a obrigações e a proibições. Hoje, somos desafiados a dizer a fé a partir da beleza do amor (entre Deus e nós, entre nós e Deus). Esta é a aposta que Deus faz em nosso favor.
Até a expressão ‘abraçastes a fé’ nos remete para a ternura e a disponibilidade para essa relação entre o divino e o humano. Abraçar é envolver (o outro) e ser envolvido (por ele). Que belo podermos dizer: eu abracei a fé, abraçado «com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo», estou envolvido pelo amor de Deus.
Algo semelhante nos transmite a parte final de um soneto de Pablo de Neruda: «Em teu abraço eu abraço o que existe,/ a areia, o tempo, a árvore da chuva,// e tudo vive para que eu viva:/ sem ir tão longe posso ver tudo:/ vejo em tua vida todo o vivente».
Dizem que, no mínimo, precisamos de quatro abraços por dia; e o ideal são doze abraços diários. Doze, o número dos Apóstolos. A fé é um abraço que vale por doze!
Sedução
A sedução pode ser um dos tópicos para configurar a experiência crente. Na verdade, as imagens afetivas podem ter um poder impactante. Têm-no em qualquer relação interpessoal, de modo que o mesmo há de acontecer na nossa relação com Deus.
Como uma relação nos abre à alteridade, a fé abre-nos à Alteridade (com letra maiúscula), estimula a capacidade de ver os acontecimentos a partir do Outro, o Amado.
‘Abraçar’ a fé é aceitar entrar nesse jogo de sedução que introduz a possibilidade de amar e ser amado. Não é isso a confiança?! Estabelece-se uma cumplicidade sincera que aprisiona, no bom sentido, aqueles que se entregam a uma relação. Por isso, podemos dizer que a fidelidade e a fecundidade, isto é, a fé e o amor caminham ‘abraçados’.