Sede de Vós, meu Deus
5 de Novembro de 2020Viver em ação de graças
7 de Novembro de 2020TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO, ANO A
Estes dias mais sombrios do outono e a proximidade do final do ano litúrgico unem a humana finitude ao desejo de infinito. Em sintonia, surge a procura do sentido da vida. É uma época propícia para aprofundar a esperança dos ressuscitados.
‘Sede de vós, meu Deus’
A reta final do ano litúrgico propõe a leitura do capítulo vinte e cinco do evangelho segundo Mateus. Em cada ‘episódio’, acompanhamos uma das três parábolas deste capítulo. Estamos no último dos cinco grandes discursos próprios deste evangelho.
As incertezas deste tempo de pandemia têm gerado preocupação e ansiedade, tensões e angústias, mais ou menos evidentes. Em simultâneo, vivemos com expectativa a chegada de uma vacina ou algum medicamento que possa travar a propagação deste coronavírus. Estamos mais ou menos como aquelas dez virgens à espera do noivo.
A parábola confronta-nos com o sentido último da nossa vida: a resignação à finitude, simbolizada na falta de azeite das virgens insensatas; ou a chama de infinito, expressa pelo suplemento de azeite que as virgens prudentes tinham nas almotolias.
O azeite é a nossa confiança em Deus. Jesus Cristo quer avivar em nós a confiança, não meter medo, mas despertar o desejo de Deus, a ânsia de ir ao seu encontro. O convite está lançado: «Aí vem o esposo: ide ao seu encontro». Estou pronto para ir ao seu encontro?
O salmo deste domingo sugere uma metáfora espiritual muito forte para nos ajudar a refletir sobre o nosso encontro com o esposo: «a minha alma tem sede de vós, meu Deus». É a imagem dos noivos que se amam e desejam viver juntos essa experiência de amor.
É preciosa esta imagem da sede de estar juntos, o passar a noite a pensar no amado, o desejo de encontro, como a necessidade de azeite para alimentar o fogo do amor. É assim a minha relação com Deus? Tenho ‘sede’ de Deus?
A confiança, dita por Jesus Cristo em modo de prudência, permite-nos acolher a certeza de que Deus não foge nem se esconde, antes espera por nós sentado à porta, aparece-nos nos caminhos, vem ao nosso encontro em todos os pensamentos (evoca o livro da Sabedoria).
Hoje, precisamos de ‘azeite’ que ilumine e sacie a nossa vida. A tibieza e o andar à deriva sem rumo demonstram a falta de ‘azeite’. Ainda vamos a tempo! A fonte e meta da nossa existência é a santidade. Estamos destinados à bem-aventurança!
Saciar a sede
Deus tem sede de nós, tem sede que a nossa existência terrena se torne plena de felicidade. Do mesmo modo, a nossa vida resolve-se na medida em que aprofundamos a nossa sede de Deus.
Ao longo desta semana, com o salmista, posso rezar em cada manhã: «Senhor, és o meu Deus: desde a aurora te procuro. A minha alma tem sede de ti, meu Deus. Por ti suspiro, como terra árida, sequiosa, sem água».
O crente não é aquele que está saciado de Deus, o crente é aquele que tem uma cada vez mais intensa sede de Deus. O crente não ignora a morte, mas acolhe-a como o momento em que se há de ver saciadas todas as suas sedes, o encontro pleno com aquele por quem suspirou dia e noite.