
Tome a sua cruz e siga-me
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Há uma tentação muito forte em ignorar todas as palavras relacionadas com cruz, sacrifício, renúncia, sofrimento, morte. Contudo, elas pertencem ao coração da mensagem cristã.
‘Tome a sua cruz e siga-Me’
Pedro, outra vez, protesta pelo facto de Jesus Cristo anunciar que vai atravessar o sofrimento e a morte. É um bom desejo este, o de não querer que um seu amigo tenha de sofrer e morrer numa cruz.
Como nós, Pedro caminha entre a dúvida e a confiança, o fracasso e o sucesso, a coragem e o medo, a traição e o arrependimento, a derrota e a vitória. O seu problema (como o nosso!) é ver as coisas com os olhos humanos, em vez de procurar o olhar de Deus.
O Mestre aproveita para explicar em que consiste ser seu discípulo: «renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me», perder para ganhar, dar a vida para viver. Não se trata de procurar o sofrimento, como masoquista; trata-se de ser fiel à missão, servir com amor.
A renúncia é vencer o egoísmo e o comodismo para ser fiel à missão. Tomar a cruz é perceber que a fidelidade comporta adversidades e sofrimentos. Como já vimos, não se trata de resignação, limitar-se a padecer, como também não é ignorar as adversidades ou tornar-se um revoltado. Tomar a cruz é, portanto, atravessar a dor e o sofrimento, e o mesmo se aplica à morte, com perseverança e confiança. Hoje, nas circunstâncias próprias da tua vida, o que é que significa tomar a cruz?
O sofrimento e a morte não são o objetivo, mas são de facto inevitáveis. Vimo-lo ao longo desta ‘série’ que chega ao último episódio. Agora, estamos mais aptos a vencer a revolta com a perseverança, o medo com a confiança. A Carta aos Romanos diz-nos qual é a «renovação espiritual» que podemos alcançar: «discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito».
Deus nunca nos abandona, porque, mesmo em silêncio, está sempre presente com a mão estendida. Ou como no poema ‘Pegadas na areia’: «Meu querido filho, jamais te deixaria nas horas da prova e do sofrimento. Quando viste, na areia, apenas um par de pegadas, eram as minhas. Foi exactamente aí que peguei em ti ao colo».
A maior prova de amor está neste final: Jesus Cristo, como um de nós, atravessa o sofrimento e a morte, para nos fazer participantes da ressurreição. A vitória final é do amor e da vida.
Renovação espiritual
Cada um tem a sua própria cruz: uma doença, uma perda afetiva, a maldade de um vizinho, a inveja de um familiar, a traição de um amigo... De nada adianta choramingar, na lamentação ou vitimização, como se tudo caísse sobre nós.
Quando sofres, quando te sentes ferido, quando estás desiludido, quando foste traído, quando és perseguido, quando te sentes usado, quanto és insultado, medita na paixão de Jesus Cristo e nela encontrarás a tua identidade.
O poder de Deus na fraqueza da cruz é o único capaz de te ensinar a atravessar o sofrimento, sem o negar, para aprender a sair dele transformado. Assim começa a renovação espiritual que te permite encontrar o pleno sentido da vida