Conviver com as sombras
21 de Julho de 2023A nossa transfiguração
4 de Agosto de 2023DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO, ANO A
Não podemos desperdiçar a oportunidade! Há renúncias que precisam de ser feitas, para sermos felizes. Abramos o nosso coração ao amor de Deus, o único amor capaz de saciar os desejos mais profundos que habitam em cada um de nós.
“Recolheram o que é bom”
As parábolas são um modo eficaz usado por Jesus Cristo para falar de Deus. Hoje, revela-nos que Deus é como um tesouro escondido, como um comerciante que procura belas pérolas, como uma rede que junta todo o género de peixe.
Nós, que somos configurados à imagem de Jesus Cristo, estamos convocados para ser e agir em sintonia com o ser e o agir de Deus. Pode ser por um acaso, pode ser por causa de uma procura dedicada. Em qualquer caso, sem hesitar, somos convidados a sacrificar o que é secundário para alcançar e guardar o essencial.
Andamos ocupados e distraídos e não cuidamos de refletir sobre a nossa vida e sobre o nosso ser, aquilo que somos, o mistério da nossa personalidade. Disto depende o sucesso da nossa existência. Quem pretende alcançar o propósito de vida tem de pôr tudo de lado: vender tudo o que tem, diz Jesus Cristo.
A terceira parábola é semelhante à do trigo e do joio, sobre a qual refletimos no episódio anterior. Dissemos que, sem ignorar o joio, estamos empenhados em fazer aumentar a pequena porção de bem que também há em nós. Certos de que é preciso atirar fora o que não presta, queremos recolher o que é bom, a fim de aumentar a riqueza do nosso tesouro interior: «recolheram o que é bom nos cestos e atiraram fora o que não prestava».
Reintegrar
Nesta ‘série’ tomamos consciência de que, dentro de nós, há luzes e trevas, preto e branco, bem e mal, a sombra e o esplendor. Uma parte de nós está mergulhada no amor e nos seus benefícios, outra parte está contaminada pela prática do mal.
Aprendemos a importância da paciência, para a transformação da nossa vida: é a primeira condição para o sucesso da nossa transfiguração. A paciência favorece a lucidez no conhecimento de nós mesmos, as sombras e as luzes.
Não basta dizer que é preciso livrar-nos de determinados vícios e pecados, é preciso saber a maneira saudável e inteligente de o fazer. Só um coração inteligente, um coração sábio e esclarecido, é capaz de distinguir o bem e o mal que habitam em nós.
Reconhecidas as nossas sombras, feita, com paciência, a distinção entre o que é bom e o que não presta, chega a hora de aprender a reintegrar as nossas sombras, em vez de as recalcar. Esta é outra etapa essencial, para o sucesso da vida.
«Até as partes de nós mais pobres e desviantes deixarão ver a presença de uma grande riqueza, com a condição de as aceitarmos com inteligência, amor e paciência. […] Até no coração da imundície e da escória humana se encontra sempre uma ‘pérola’, um ‘tesouro’. Misturado com o joio, encontramos o ‘bom grão’. O trabalho sobre a sombra consiste por isso em soltar essa parcela de ouro das impurezas que a cobrem» (Jean Monbourquette). Dentro de nós, há uma integridade imperfeita sedenta de ser purificada e transfigurada.