Purificar o olhar
23 de Setembro de 2023Recomeçar
7 de Outubro de 2023VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO, ANO A
A adesão a Jesus Cristo faz-se com ações, mais do que com palavras. Porque pode haver uma contradição entre o dizer e o fazer, torna-se necessário afirmar a nossa fé com a prática de boas obras. Assim confirmamos a vontade do Pai.
“Depois arrependeu-se e foi”
A parábola é um teste para a nossa fé. Está pontuada por duas perguntas: «Que vos parece? […]. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». A história é simples e a sentença é clara, ainda que escandalosa e irritante para os ouvintes.
Dois filhos respondem e reagem de maneira diferente ao pedido do pai. O comportamento de cada um mostra que as ações são mais decisivas do que as palavras e as promessas que proferimos pela nossa boca. O profeta Ezequiel tinha-o dito, ao lembrar a condenação do justo que se afasta do bem e pratica o mal, em contraste com a salvação do pecador que se afasta do mal e pratica o bem. Quem reduz a fé a declarações de doutrina é avisado de que Deus não se deixa enganar pelas aparências.
Em qual dos dois nos reconhecemos? Que filho queremos ser? A verdade é que, em nós, habitam os dois filhos, o justo e o pecador. Não somos impecáveis. As nossas falsas obediências e as dúvidas iniciais sobre fazer ou não fazer a vontade do Pai denunciam os altos e baixos da nossa vida, demonstram um coração dividido, que diz uma coisa e depois se contradiz. É um alerta para cuidarmos da nossa vida, no modo como agimos, no compromisso que colocamos na vivência do Evangelho.
Sobre o primeiro filho, diz que «depois arrependeu-se e foi». Não há dúvida de que a incoerência do primeiro é mais valiosa do que a incoerência do segundo filho: quando o sim se transforma em não, fecha-se uma porta; quando o não se transforma em sim, há um novo caminho que conduz a Deus.
Reconhecer o erro
A conclusão que Jesus Cristo acrescenta, após a parábola, confirma o arrependimento como elemento essencial, na relação connosco, com Deus e com os outros.
Nesta ‘série’, começamos pela eficácia dos pensamentos positivos, facilitadores do diálogo, mesmo com pessoas difíceis. Lembramos a força do perdão, em detrimento do rancor ou da vingança, bem como a coragem de ter em conta a perspetiva do outro. Quando se trata de pedir perdão, é o arrependimento que abre o coração à possibilidade de reatar as relações. O arrependimento é também um instrumento para purificar o olhar, como vimos no episódio anterior, de modo a vencer o ciúme e a inveja.
«Se estiver errado, admita-o rápida e enfaticamente», proclama Dale Carnegie, num dos princípios para resolver conflitos e fazer amigos. «Quando estamos errados – e isso acontecerá frequentemente para nossa surpresa, como reconheceremos se formos honestos com nós mesmos – admitamos os nossos erros rapidamente e com entusiasmo».
O arrependimento é próprio dos corajosos. Reconhecer o erro é sinal de maturidade. Arrepender-se e reconhecer o erro, queiramos ou não, faz-nos mais felizes, produz resultados surpreendentes e divertidos, na configuração da nossa identidade e nas relações interpessoais.