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17 de Agosto de 2019Sinceridade e eficácia
24 de Agosto de 2019Há uma língua comum entre a literatura e a vida espiritual: «interrogam a nossa condição, visitam as nossas inquietações, batem à porta dos nossos para além, inflamam os nossos amores, extinguem-nos, perturbam-nos, ferem-nos. Falam a nossa língua materna». Várias paróquias têm a promoção da leitura nos seus programas pastorais. Ocorra a outras repensar os espaços (os adros, por exemplo) a partir deste duplo objetivo: preservar a natureza e promover os hábitos de leitura.
LEITURA
A vida pode ser transformada pela leitura, não necessariamente por causa de um ‘grande livro’. O encontro com a literatura desperta experiências significativas ao longo da vida.
A 'Árvore da Leitura' é uma pequena biblioteca instalada numa árvore situada no parque da capela de Guadalupe, na paróquia de São Victor, cidade de Braga. Pretende contribuir para «fomentar os hábitos de leitura e aumentar os índices de literacia» (cf. Diário do Minho de 18 de agosto de 2019). Os responsáveis falam de um duplo objetivo que une a preservação da natureza aos hábitos de leitura.
Raul Brandão, ao iniciar as suas Memórias, escreve que, se fosse possível recomeçar a vida, «perdia outras tantas horas diante do que é eterno, embebido ainda neste sonho puído. Não me habituo: não posso ver uma árvore sem espanto [...]. Ignoro tudo, acho tudo esplêndido, até as coisas vulgares». Irrompe nele uma gratidão: «agradeço a Deus ter-me deixado assistir um momento a este espetáculo desabalado da vida. Isso me basta. Isso me enche». A 'Árvore da Leitura' possa levar a esse espanto que ilumina a vida e abre para o agradecido abraço com o divino.
«Eu sou uma parte daquilo que li» declara Eugénio Lisboa, no ensaio sobre a ‘transformação’ através da leitura. «Todos nós, em maior ou menor medida, temos memória, ao longo da nossa vida, de momentos inesquecíveis de encontro com um livro determinado: momentos em que nos parece que a nossa vida, de algum modo, ‘mudou’. Não somos, depois dessa leitura, os mesmos que éramos antes. Ou, por outras palavras, ao lermos o livro, descobrimos que nos estamos a ler a nós próprios: estamos perante uma ‘descoberta’ que é também uma ‘transformação’».
Há uma língua comum entre a literatura e a vida espiritual: «interrogam a nossa condição, visitam as nossas inquietações, batem à porta dos nossos para além, inflamam os nossos amores, extinguem-nos, perturbam-nos, ferem-nos. Falam a nossa língua materna» (Gabriel Ringlet).
Várias paróquias têm a promoção da leitura nos seus programas pastorais. Ocorra a outras repensar os espaços (os adros, por exemplo) a partir deste duplo objetivo: preservar a natureza e promover os hábitos de leitura. Surjam, junto das nossas igrejas e capelas, novas 'Árvores da Leitura'.