Memória agradecida
16 de Março de 2024Partilhar o Pão, alimentar a Esperança
31 de Março de 2024DOMINGO DE RAMOS, ANO B
O Filho de Deus entra em Jerusalém como rei, para terminar como delinquente numa cruz. Contemplemos o caminho percorrido por Jesus Cristo, por fidelidade ao amor. Agradeçamos-lhe a sua entrega. Porque a sua cruz é a nossa vida.
«Abbá, Pai! Tudo te é possível»
A Paixão de Jesus Cristo mostra-nos o amor absoluto de Deus. O amor não tem preço, tem sim o poder de tudo superar, inclusive o medo do sofrimento e da morte. Curiosamente, os que se consideram bons e justos são os que não suportam o amor absoluto que Deus, em Jesus Cristo, oferece a todos, todos, todos. Incomodados, aqueles supostos bons e justos crucificaram o amor.
Viver por amor, ensina-nos o caminho percorrido por Jesus Cristo, é a coisa mais séria da vida, é a coisa mais linda que há no mundo. Nós nascemos deste amor desarmado na cruz, nascemos deste abraço eterno, que nada nem ninguém pode anular.
«Deus não salva da cruz, mas na cruz; não protege da dor, mas na dor. […] Deus está na cruz para estar comigo e para ser como eu, para que eu esteja com Ele e seja como Ele» (Ermes Ronchi). Deus compreende e acolhe os nossos gritos: «Abbá, Pai! Tudo te é possível»; «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?».
O grito foi atendido, não por ter evitado a morte, mas por a ter atravessado com confiança no amor. Os nossos gritos são atendidos, não quando queremos evitar o sofrimento e a morte, mas quando os atravessamos com confiança no amor. Ao contrário daqueles que zombavam de Jesus Cristo ou do salmista, façamos dessas palavras o fundamento da nossa fé: «Confiou no Senhor, Ele que o livre, Ele que o salve, se é seu amigo». Sim, confiamos no Senhor, acreditamos na salvação, Deus é nosso amigo.
Permanecer no bem
Chegamos ao fim desta ‘série’ com a qual nos propusemos percorrer um itinerário de purificação da nossa vida interior e afetiva, alertados, desde o primeiro episódio, de que a cura é um acontecimento pascal, percurso sempre em progresso. É uma arte!
A cura não é voltar à vida anterior à doença. Ser curado não é (apenas) abandonar o mal e deixar de pecar, ser curado é entregar-se ao amor, é permanecer no bem, custe o que custar, amar de um modo mais profundo do que qualquer experiência anterior à cura. Só quando aí chegarmos é que verdadeiramente se pode falar de cura. Pode antes perceber-se o processo de purificação, porém, só quando a pessoa ama por inteiro é que está confirmada a cura. O amor e a mansidão são a verdadeira prova da cura. Esta é a meta da vida cristã que supera todos os outros objetivos: a misericórdia.
A vida saudável, diz Fabio Rosini, «é passar por uma situação de dor e deixarmo-nos ‘trabalhar’ por ela, crescer por dentro. É não acreditar nos becos sem saída, é saber que tudo é graça. Em cada coisa, em cada facto há um caminho para o Pai. […] Acreditar que tudo é graça, tudo é providência, é pensar como um filho: se o Pai me pôs aqui, quer dizer que aqui há uma graça. Procuras essa graça até a encontrares. Mesmo no hospital, no meio das dores». É permanecer no bem, por amor.