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3 de Setembro de 2019Jovens, vós sois importantes
10 de Setembro de 2019O nosso tempo carece de silêncio, somos ‘analfabetos do silêncio’. Nós, todos somos agentes de ruído, precisamos de escutar «a palavra que leva ao silêncio», promover o silêncio exterior e educar para o interior. Um e outro colocam-nos na experiência do assombro, no espanto da vida, na beleza da criação, na descoberta do divino que habita o centro do ser. É a partir de dentro, a partir de ‘si’ que se inicia o ‘silêncio’.
SILÊNCIO
Somos seres da palavra, caracteriza-nos a capacidade de, através de um vocabulário comum, criar relações, laços de amizade. O que não impede de cuidar do silêncio também como forma de expressão, tão importante como qualquer alimento da nossa sobrevivência.
A revista do semanário Expresso (edição de 31 de agosto) revela que somos dos países mais barulhentos da Europa, o quarto da União Europeia mais exposto à poluição sonora. A Agência Europeia do Ambiente assinala outro dado preocupante: no ano de 2017, em Portugal, 92 pessoas morreram prematuramente por causa do barulho.
A Organização Mundial da Saúde alerta que a poluição sonora interfere no desenvolvimento cognitivo, com efeitos nocivos na audição, mas também na qualidade do sono, na obesidade, na pressão arterial e no risco de ataque cardíaco.
As novas gerações, fruto da maior exposição às novas tecnologias, em especial os altos volumes dos auscultadores, estão entre os principais pacientes com dificuldades auditivas.
O silêncio devia ser proclamado Património Imaterial da Humanidade, desejou o (novo) cardeal José Tolentino Mendonça, aquando da participação no festival literário ‘Correntes d'Escritas’. Noutro momento escreveu que um dos contributos importantes da experiência religiosa, para a humanidade, «mais até do que a palavra será a partilha desse património imenso que é o silêncio. [...] Precisamos do auxílio de outra ciência, a que recorremos pouco: o silêncio. Isaac de Nínive, lá pelos finais do século VII, ensinava: ‘A palavra é o órgão do mundo presente. O silêncio é o mistério do mundo que está a chegar’. [...] O silêncio é um instrumento de construção, é uma lente, uma alavanca. [...] O silêncio é um traço de união mais frequente do que se imagina, e mais fecundo do que se julga».
O nosso tempo carece de silêncio, somos ‘analfabetos do silêncio’. Nós, todos somos agentes de ruído, precisamos de escutar «a palavra que leva ao silêncio» (John Main), promover o silêncio exterior e educar para o interior. Um e outro colocam-nos na experiência do assombro, no espanto da vida, na beleza da criação, na descoberta do divino que habita o centro do ser. É a partir de dentro, a partir de ‘si’ que se inicia o ‘silêncio’.