Um sinal da aliança
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20 de Fevereiro de 2021PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA, ANO B
A Quaresma convida-nos a viver a dinâmica da Aliança. Deus não quer a destruição, mas a vida. Estabelece uma aliança com toda as criaturas e faz surgir o arco-íris como sinal: «farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra».
‘Arrependei-vos e acreditar’
A Quaresma não nos pertence! Não podemos cair na tentação de nos colocarmos no centro deste tempo quaresmal, iniciado na Quarta-feira de Cinzas. Há quem se iluda a delinear um itinerário individualista (à maneira desta sociedade hodierna), com recurso a práticas devocionais e piedosas, sem as enquadrar no seu devido lugar: «Arrependei-vos e acreditai».
Deus está sempre no centro da vida, também na dimensão espiritual. Isto requer, de cada um de nós, disponibilidade interior para nos colocamos no caminho do Senhor, permitindo que seja Deus, e não nós, a converter o nosso coração. A nós, pede-se abertura e acolhimento.
Tomemos a Quaresma como uma unidade, para que não se torne uma mera sucessão de dias e domingos, uma aposição desordenada de devoções ou atos de piedade.
O itinerário desta ‘série’ é dos que melhor contribui para a importância de nos situarmos no caminho divino, em vez de predeterminados a dizer a Deus o que é que precisamos que faça em nós e/ou por nós. Propomo-lo a partir do tema da Aliança.
‘Um sinal da aliança’
Deus estabelece uma aliança com Noé, seus filhos, com todas as criaturas e toda a terra, nossa Casa Comum: «aliança que estabeleço convosco e […] por todas as gerações futuras». Sai reforçado o vínculo divino e eterno: «convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos […] de hoje em diante».
No relato do livro do Génesis (proposto na primeira leitura), Deus apresenta o sinal do arco-íris como promessa de jamais se esquecer: «Sempre que Eu cobrir a terra de nuvens e aparecer nas nuvens o arco, recordarei a minha aliança convosco e com todos os seres vivos e nunca mais as águas formarão um dilúvio para destruir todas as criaturas».
É bom termos em conta que a recordação bíblica vai além da mera evocação; tem sempre uma repercussão no presente. Recordar, na Escritura, é atualizar a experiência dos acontecimentos passados. A recordação é memorial. O tempo de Deus é sempre presente, realiza e atualiza a Aliança, em cada momento da história.
O sinal
O arco-íris é sinal da fidelidade divina. Ao vê-lo podemos dizer: Deus ama a Criação.
No meio do ‘dilúvio’ provocado pela Covid-19, Deus faz erguer de novo o arco-íris. Não gosto de dizer que vai ficar tudo bem. Mas acredito que, no meio desta tempestade, Deus continua a erguer o seu arco de amor.
Creio que este é um exercício quaresmal que todos podemos fazer, sozinhos, em família. Não se trata de tentar alcançar algo que (ainda) não temos; trata-se, isso sim, de um exercício de reconhecimento: tomar consciência da bondade divina.
O episódio de Noé, no meio deste ‘dilúvio’, ajuda-nos a reconhecer o amor que está no início da vida e nos envolve a todos. Deus estabelece connosco uma Aliança!