Uma só coisa é necessária
28 de Março de 2020Como escutam os discípulos
2 de Abril de 2020Sozinho, a coxear, um homem de 83 anos caminha banhado por uma ligeira chuva, que, naquele instante, se tornaram, homem e chuva, símbolos do episódio que estava para ser proclamado solenemente: ao entardecer daquele dia, os discípulos foram confrontados com uma ‘inesperada e furibunda’ tempestade. O maior abraço da (nossa) história parte da cruz para chegar ao nosso coração.
PAPA FRANCISCO
A praça de São Pedro nunca esteve tão cheia! O espanto ecoou em vários idiomas, a propósito daquele momento extraordinário de oração, ao entardecer do dia 27 de março, com a bênção à Cidade e ao Mundo (‘Urbi et Orbi’) promovida pelo Papa Francisco.
Um grande abraço foi a forma projetada por Bernini, no século XVII, ao dispor as duzentas e oitenta e quatro colunas que ladeiam a praça, para acolher a todos, crentes e não crentes, crianças e adultos, de todas as raças e continentes.
Sozinho, a coxear, um homem de 83 anos caminha banhado por uma ligeira chuva, que, naquele instante, se tornaram, homem e chuva, símbolos do episódio que estava para ser proclamado solenemente (cf. Marcos 4, 35-41): ao entardecer daquele dia, os discípulos foram confrontados com uma ‘inesperada e furibunda’ tempestade.
O maior abraço da (nossa) história parte da cruz, na qual está suspenso o Redentor, passa pela hóstia consagrada movida na direção dos quatro pontos cardeais, para chegar ao nosso coração: «desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações!».
Abraço de Deus. Abraço de esperança. O insuportável silêncio que nos foi imposto torna-se num abençoado silêncio que a todos abraça. Até os que não acreditam se podem sentir abraçados através daquele ancião cheio de esperança.
O jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho interpretou-o desta forma: «Não se trata de religião, que há muitas. Trata-se de fé humana, uma força que voa acima de igrejas e mesquitas. Francisco foi a nossa solidão e a nossa resistência».
A Humanidade necessita deste abraço. Todos precisamos deste abraço. Cada um, católico ou não, pode acolhê-lo à sua maneira, como um abraço terno e amoroso. Talvez este sinal nos ajude a entender que, mais do que qualquer outra coisa, o que nos torna humanos é o amor.
«Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Isaías 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança».