Ainda não tendes fé?
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19 de Junho de 2021DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO, ANO B
Vento, mar, tempestade, fenómenos meteorológicos que tudo destroem… Os Apóstolos ficam indignados perante a tranquilidade do Mestre. Mas Jesus Cristo interpela-os: «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».
‘Ainda não tendes fé?’
O evangelho deste domingo confronta-nos com a fé (confiança) em Jesus Cristo, em especial quando as circunstâncias são adversas. Fica claro o contraste entre o Mestre e os discípulos. Talvez para mostrar que a confiança (de Jesus Cristo) permite viver as circunstâncias hostis com uma harmonia interior que está ausente naqueles (os discípulos) que carecem da dita confiança.
Todos nós, em determinados momentos, experimentamos o desânimo e medo, o susto e o desespero. Há experiências tão ‘duras’ que até parece que Deus está a dormir, desinteressado de nós. Sentimos o abandono e a solidão, a noite escura e a tempestade turbulenta, muito idêntico ao acontecido naquele lago da Galileia.
Jesus Cristo acalma a tempestade, a marítima e a que habita o coração humano. Na Bíblia, acalmar a fúria das ondas do mar é ter um poder divino que domina as forças do mal. Daí o assombro: «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».
Inauguramos, com este episódio, uma ‘série’ sobre a fé, em perspetiva existencial, tal como nos relatos do evangelho segundo Marcos. Na verdade, a temática da fé é um dos grandes questionamentos deste livro: Confiamos em Jesus Cristo?
Naquele dia, como nos nossos dias, as perguntas tecem a história e a nossa experiência de fé. Tendemos a pensar a fé como algo retilíneo e fixo, que nos dá todas as respostas e explica todas as coisas com sentido. Talvez este modo intelectual de abordar a fé não seja o mais adequado ao evidenciado pelos relatos bíblicos.
A experiência vital da fé não é uma linha reta, muito menos o ponto final. Faz-se de curvas e contracurvas, avanços e retrocessos, dúvidas e incertezas, equilíbrio e desequilíbrios, perguntas e respostas incompletas. Os opostos não se anulam, antes convivem juntos.
O caminho inclui também um certo desconforto. Está explícito no advérbio ‘ainda’. A fé só pode vir a ser harmonia interior, confiança plena apesar de tudo, como resultado de um processo no tempo, não ponto de partida da nossa história!
O início
Aos discípulos de ontem e de hoje, no meio das tempestades, o Mestre continua a interpelar: «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?». Jesus Cristo questiona o estado da nossa fé. Sobressai o ‘ainda’ que nos remete para uma possibilidade nova, um futuro mais pleno e maduro.
Esta ‘série’ detém-se sobre a nossa relação existencial com Deus, sobre a confiança (ou falta dela) na contínua presença do Senhor na nossa vida.
A fé é a história de um encontro. O início pode ser através de um grito ou em forma de assombro. Parte da vida como ela é, feita de encontros, e até de desencontros, de tempestades e bonanças.
A fé dispõe-nos a uma nova atitude perante os acontecimentos. Não sozinhos. Reclamamos a companhia de Jesus Cristo na barca da nossa vida.