Os caminhos da vida
23 de Abril de 2020Terceiro Domingo da Páscoa, Ano A
25 de Abril de 2020TERCEIRO DOMINGO DA PÁSCOA, ANO A
O desânimo e a tristeza podem dar lugar ao entusiasmo e à alegria? Sim, mas não temos uma solução mágica. O testemunho do cristão é estar mergulhado nas dificuldades da vida quotidiana com «renovada juventude da alma» (cf. oração coleta).
‘Abriram-se-lhes os olhos’
Pensemos num encontro em que alguém toma a iniciativa de partilhar uma experiência impactante. Enquanto escutamos, relembramos algo já vivido: ‘isso também já me aconteceu a mim’! Não foi o mesmo, à mesma hora e lugar, mas a semelhança que estabelece a conexão é o efeito que perdura em nós.
O evangelista Lucas conta a experiência de dois discípulos a caminho de Emaús, de maneira que cada um de nós também possa exclamar: ‘isso também já me aconteceu a mim’ (ou, pelo menos, desejar de que aconteça muito em breve!).
Caminham tristes e desanimados, sentimentos que embaraçam a capacidade de visão. Até do ponto de vista físico, o desânimo pode provocar visão turva e fadiga ocular.
A tristeza e o desânimo impede-os de reconhecer o companheiro de viagem. Não veem porque estão ofuscado pelos sentimentos, sem disponibilidade para conectar os acontecimentos mais recentes, a morte de Jesus Cristo, com os que lhes podiam dar pleno significado, a promessa messiânica que perpassa a história bíblica. Quando se permitem libertar do «ar muito triste», chega o impacto: «abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O».
A janela da novidade
Hoje, leitores/ouvintes, sabemos a identidade daquele companheiro de viagem. Contudo, se colocados na pele dos discípulos, talvez estejamos em idêntica situação: ‘escondidos’ em casa, porventura desanimados e «com ar muito triste».‘Nós esperávamos que Deus nos libertasse desta pandemia… Mas afinal já morreu tanta gente, há tantos infetados e gravemente doentes’…
Não é Deus que está ausente. Nós, os atuais discípulos de Emaús, é que, obstruídos pelos sentimentos, ficamos impedidos de reconhecer a sua presença.
A fé permite vencer a dureza do coração. Quando abrimos a janela da novidade trazida pelo Ressuscitado, somos insuflados de um ar muito alegre que abre os olhos por dentro para reconhecer o companheiro de viagem.
Como naquele dia em direção a Emaús, não dá uma receita: ‘faz isto e desaparece o problema’. Não faz magia, mas pedagogia: ajuda a compreender que nenhuma experiência humana está excluída do coração de Deus.
Nunca sozinhos
Sabemos que o ‘essencial’ só se percebe com o coração, esse ‘órgão’ espiritual que nos põe em marcha rumo ao Amor. Nunca sozinhos!
Há momentos em que preferimos a lamentação e o desânimo. Escolhemos o medo e a tristeza. Deixa que o Espírito Santo incendeie o teu coração!
O Ressuscitado quer ser companheiro nos caminhos da vida. «No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado» (Papa Francisco). Ele faz passar da incompreensão ao entendimento, da dúvida à fé, da tristeza à alegria, do desânimo ao entusiasmo, da fuga à missão.