Caminho de regresso a Deus
15 de Outubro de 2019O muito é feito de poucos
22 de Outubro de 2019Colocar os pobres no centro do caminho da Igreja é muito mais do que dar-lhes dinheiro para tranquilizar a consciência, é deixar-se evangelizar por eles. Mais do que atos esporádicos de generosidade, supõe a criação duma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos».
POBREZA
A dimensão social da evangelização jamais pode ser descurada, «precisamente porque, se esta dimensão não for devidamente explicitada, corre-se sempre o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora» (EG 176). Evangelizar é também assumir «a preocupação pelo desenvolvimento integral dos mais abandonados da sociedade» (EG 186), entre esses os que vivem em situação de extrema pobreza.
A notícia (Diário do Minho de 18 de outubro de 2019) não nos pode deixar indiferentes: os dados de 2017, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, indicam que «cerca de 330 mil crianças estão em risco de pobreza em Portugal, sendo que o grupo etário até aos 18 anos é o mais afetado, o que significa que há mais crianças pobres do que adultos ou idosos».
Números idênticos são confirmados pelo Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza. Ao analisar o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, este organismo constata que a população entre os 15 e os 24 anos «é dos grupos mais vulneráveis às questões da pobreza e da exclusão social».
As Comissões Europeias Justiça e Paz, organismos da Igreja Católica, também alertaram, entre outras, para a gravidade das situações de pobreza. Uma Igreja pobre para os pobres, como repropõe o Papa Francisco, não quer uma sociedade dominada pela pobreza monetária. A pobreza como valor não é uma categoria cultural, sociológica, política ou filosófica. Assume-se como categoria teológica e traduz-se numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária (cf. EG 198 e 200).
Uma vida austera também pode resvalar para a avareza, um dos pecados capitais. A austeridade tem sentido quando aponta para o essencial e permite abrir o coração e as mãos à solidariedade, através da qual se pode recuperar a dignidade e melhorar a qualidade de vida.
Colocar os pobres no centro do caminho da Igreja é muito mais do que dar-lhes dinheiro para tranquilizar a consciência, é deixar-se evangelizar por eles (cf. EG 198). Mais do que atos esporádicos de generosidade, supõe a criação duma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos» (EG 188).
Há duas atitudes que podem germinar em nós e ser semeadoras de esperança: uma vida austera e essencial; uma nova mentalidade solidária.