Despertar o desejo
28 de Novembro de 2019Ter esperança
4 de Dezembro de 2019Despertar o desejo possibilita a transformação do ser humano a partir da abertura a Deus. Despertar o desejo é «o que mais decisivo se joga em nós» na dupla dimensão espiritual e pastoral, quer para ‘ver’ Deus presente na vida, quer para pôr em marcha o plano de Renovação Inadiável.
DESEJO
‘Desiderantes’ eram os soldados que aguardavam o regresso dos companheiros que se tinham deslocado para a frente de batalha. A terminologia congrega o tempo da espera e a permanência em vigília como duas características do desejo.
José Tolentino Mendonça, agora cardeal ao serviço da Biblioteca do Vaticano, aquando dos exercícios quaresmais do Papa e da Cúria Romana (fevereiro de 2018), colocou a temática do desejo no centro da vida espiritual: «O que de mais decisivo se joga em nós prende-se com o desejo de Deus».
Na busca da etimologia, deparamo-nos também com a impossibilidade de alcançar as estrelas (‘sidera’ em latim) tendo a partícula ‘de’ o caráter privativo de impossibilidade. Neste caso, o ‘desejo’ (‘de-sidera’) une a atração e a distância provocadas pelo espanto que o espaço sideral gera em nós.
O pensamento de Sebastian Moore deu origem à tese de doutoramento elaborada por Teresa Messias, na qual apresenta «o desejo e a sua transformação no seguimento de Jesus».
O monge beneditino destaca as características da passividade e da atividade. E estabelece uma relação inseparável entre desejo, confiança e esperança.
O desejo é, ao mesmo tempo, a certeza da lonjura e a vontade em abraçá-la, a consciência da ausência e a expetativa da presença. A experiência do desejo assume a ausência e a presença, a distância e a proximidade, a passividade e a atividade. Haverá algo mais apropriado para descrever a nossa relação com Deus?
Há uma expressão de Antoine de Saint-Exupéry que nos pode impulsionar a todos: «Se quiseres construir um navio, não comeces por dizer aos operários para juntar madeira ou preparar as ferramentas; não comeces por distribuir tarefas ou por organizar a atividade. Em vez disso, detém-te a acordar neles o desejo do mar distante e sem fim. Quando estiver viva esta sede meter-se-ão ao trabalho para construir o navio».
É possível manter viva a chama do desejo, como Teilhard de Chardin dizia ser a nossa missão?
Despertar o desejo possibilita a transformação do ser humano a partir da abertura a Deus. Despertar o desejo é «o que mais decisivo se joga em nós» na dupla dimensão espiritual e pastoral, quer para ‘ver’ Deus presente na vida, quer para pôr em marcha o plano de Renovação Inadiável.