
Reconhecer os conflitos
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Há limites para perdoar? Jesus Cristo convida-nos a refletir sobre a misericórdia divina, para vivermos a reconciliação fraterna como prova da nossa relação com Deus. Este é o critério de resposta à questão sobre os limites do perdão.
“Setenta vezes sete”
Pedro interroga o Mestre sobre o número de vezes em que é admissível perdoar a alguém que peca contra nós. O perdão não admite contabilidade, diz Jesus Cristo com a expressão «setenta vezes sete», ou seja, perdoar sempre, sem medida, sem reservas ou quaisquer tipo de sentimentos semelhantes ao rancor ou desejo de retaliação.
Continuamos no discurso sobre as relações entre os membros da comunidade, daqueles que se comprometeram a viver as bem-aventuranças (o ponto de partida dos ensinamentos do Mestre, de acordo com o evangelho segundo Mateus).
A parábola mostra-nos a dificuldade em perdoar. É bem mais fácil falar de perdão do que perdoar. Mas a fé cristã não é mera teoria feita de palavras e de boas intenções. É um compromisso concreto e quotidiano, que se torna visível no modo como nos relacionamos uns com os outros, apoiados no amor misericordioso de Deus.
Perdoar não é fácil, não é espontâneo. Às vezes é um ato heróico! O perdão, como dizíamos no domingo passado sobre a correção fraterna, implica um esforço, sempre a partir do amor, sempre com humildade. Não se trata de um conselho ou de um convite dirigido aos mais empenhados. Jesus Cristo dirige-se a todos e deixa claro que o perdão não é a exceção, mas a regra de vida cristã.
Manter a harmonia
Os conflitos são inevitáveis, pelo menos os pequenos atritos ou as situações desconfortáveis que causam mal-entendidos. Reconhecer os conflitos, vimos no primeiro episódio desta ‘série’, é o ponto de partida mais assertivo. De facto, os conflitos que não são revelados e esclarecidos têm tendência a fazer ramificações e a tornarem-se mais graves do que aquilo que são, na cabeça das pessoas envolvidas. Por certo que já demos connosco obcecados com determinado conflito com alguém.
O perdão é essencial na mediação dos conflitos, é essencial para manter a harmonia pessoal e comunitária. «Na nossa sociedade temos tendência para glorificar a vingança. No cinema e na televisão, os heróis são, com frequência, pessoas que procuram vingar-se de quem as injustiçou. Porém, a verdade é que procurar a vingança é mesquinho. Se alguma vez o ‘conseguimos’, sabemos que não traz qualquer gratificação, apenas nos faz sentir mal de uma maneira diferente. A raiva, o ressentimento e o ódio destroem a nossa capacidade de aproveitar a vida» (Dale Carnegie).
Para progredirmos na arte de perdoar ou de pedir perdão, precisamos de deixar de pensar apenas a partir do nosso ponto de vista e ter a coragem de analisar a situação, com honestidade, tendo em conta a perspetiva da outra pessoa.
Perdoar e ser perdoado faz-nos bem, diminui a tensão, aumenta a autoestima, melhora a nossa vida, faz-nos acreditar que é possível um mundo melhor, torna-nos mais felizes. Começa, hoje, a treinar o perdão!