A revolução cristã
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18 de Novembro de 2023TRIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO, ANO A
Jesus Cristo, nosso único Mestre, volta a ser claro e conciso: ninguém é superior ao outro, todos somos irmãos, todos somos chamados ao serviço fraterno, todos juntos podemos caminhar em direção a um futuro mais humano.
“Todos vós sois irmãos”
Uma tentação antiga, sempre à espreita, a que é assinalada, neste fragmento do evangelho: o farisaísmo continua hoje a afetar pessoas e instituições.
Quando entra em conflito com os doutores da lei e os fariseus, Jesus Cristo não se limita simplesmente a desautorizar a hipocrisia deles, mas apresenta uma alternativa. A dureza usada na denúncia é uma terapia de choque à hipocrisia e uma prova de amor para connosco, através da proposta que recupera o sentido da vida e da prática religiosa.
Avisados sobre os perigos do farisaísmo, somos chamados a descobrir, não o que nos diferencia, mas aquilo que nos une: «todos vós sois irmãos». Jesus Cristo coloca as coisas no seu devido lugar: um só é o nosso Mestre, um só é o nosso Pai, todos somos irmãos, todos somos discípulos. E, quem quiser ser o primeiro ou o maior, seja o servidor.
A capacidade de suportar um fardo é medida pelos próprios ombros, antes de o propor aos outros. Bem distinta da imposição de regras difíceis de suportar, a grandeza do servidor ocorre na aptidão em proporcionar conforto e alívio ao outro, seu irmão.
Jesus Cristo é o próprio modelo da alternativa sugerida neste episódio: Aquele que vive de modo coerente e que ensina, não só com o conhecimento e a palavra, mas sobretudo com o testemunho da própria vida. A autoridade que torna um ensinamento confiável é a coerência de vida, a teoria é credível quando está refletida no estilo de vida daquele que a proclama como válida e eficaz.
Filhos amados do Pai
Reconhecer que todos somos irmãos inverte a lógica do poder de uns sobre os outros, permite, como sugere o Papa Francisco, «fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade» (Carta Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social, [FT] 8). Esta é a base da revolução cristã, que nos leva a reconhecer no rosto do outro um irmão, a expressão da presença de Deus, irmão esse de quem somos chamados a ser servidores.
O apelo à fraternidade universal encontra «razões sólidas e estáveis» na abertura a Deus reconhecido como «Pai de todos» (FT 272). Em Deus, somos filhos amados. Também aqui, como referimos a propósito da grandeza de Deus, ainda que os termos sejam os mesmos, a paternidade divina não se adequa à nossa experiência de paternidade humana.
Não é a palavra «Pai» que permite aceder à consciência de filhos amados, é Jesus Cristo, através do seu comportamento, que nos revela a essência da identidade divina: diferente da figura humana do pai, Deus é «a Fonte suprema dum amor sem “trevas”, sem sombras, sem convivência com o mal, desejoso de convidar cada um a entrar, desde hoje, numa reciprocidade de amor» (Irmão Emmanuel, de Taizé), a qual pode realizar, «no mais profundo do ser, uma intimidade divino-humana chamada a crescer até à eternidade».