A caridade dá que fazer!
23 de Outubro de 2020Trigésimo Domingo, Ano A
24 de Outubro de 2020Alguns hão de dizer que os sonhos são belos, mas irrealizáveis, são utopia. Como uma grande esperança, a utopia pode ser uma realidade, quando se proporcionam as condições e, juntos, se ousa dar o primeiro passo nessa direção. O impossível rima com passividade e braços cruzados, indiferença e resignação. O sonho rima com ousadia e entusiasmo, compromisso e ação.
SONHO
No magistério do Papa Francisco, há uma palavra que se repete e destaca: sonho.
Naquele que foi classificado como documento programático para o pontificado, A Alegria do Evangelho, Francisco declara: «Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo» (número 27). O horizonte dessa opção missionária aliada à urgente conversão pastoral aponta para «o sonho missionário de chegar a todos» (número 31).
Uma outra exortação apostólica, Querida Amazónia, é sustentada por quatro grandes sonhos: social, cultural, ecológico, eclesial.
Agora, na Carta Encíclica sobre a fraternidade e a amizade social (FT), o substantivo ou uma correspondente forma verbal aparece vinte vezes (na versão oficial em língua portuguesa).
O Papa fala de sonhos, em sintonia com aquele pastor americano, referido como um dos seus inspiradores, que, pelo ano 1963, disse com ousadia e esperança: «Eu tenho um sonho».
Nem antes, com Martin Luther King, nem agora, com Francisco, o sonho se conjuga com ilusões vãs e passageiras. Em ambos, trata-se de um forte desejo, o único com capacidade para alimentar uma grande esperança.
Martin Luther King sonhava com «a rocha sólida da fraternidade» vivida no «iluminado caminho da justiça racial». Francisco expressa-o em oração ao Criador: «Inspirai-nos o sonho de um novo encontro, de diálogo, de justiça e de paz».
É fundamental que a fraternidade seja um sonho coletivo, que «possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade, para não cairmos no «risco de ter miragens [...]; é juntos que se constroem os sonhos» (FT 8).
Alguns hão de dizer que os sonhos são belos, mas irrealizáveis, são utopia. Como uma grande esperança, a utopia pode ser uma realidade, quando se proporcionam as condições e, juntos, se ousa dar o primeiro passo nessa direção.
O impossível rima com passividade e braços cruzados, indiferença e resignação. O sonho rima com ousadia e entusiasmo, compromisso e ação.
Surge no pensamento a potência expressa na Pedra filosofal de António Gedeão: «o sonho comanda a vida. / Que sempre que um homem sonha / o mundo pula e avança». Todos irmãos e todos juntos podemos fazer avançar o mundo!