Terceiro Domingo da Quaresma, Ano B
6 de Março de 2021Desprezavam as suas palavras
11 de Março de 2021Não podemos ignorar que a Bíblia usa a linguagem de uma determinada cultura humana, dentro de um tempo histórico concreto. É essencial, na leitura bíblica, ter presente as ‘linhas de fundo’ que urdem os vários episódios numa única peça. O cristão lê cada relato acompanhado por essas ‘linhas’, sendo que, para nós, se trata do Deus revelado em Jesus Cristo.
BÍBLIA
Há passagens bíblicas, sobretudo em narrativas do Antigo Testamento, que parecem indicar uma preferência divina por uns em detrimento de outros. Entre elas, situa-se a categoria de ‘povo eleito’ aplicada às tribos de Israel. Será que existe discriminação da parte de Deus?
À primeira vista, se escolhe uma pessoa ou um povo em vez de outro, parece ser possível afirmar que Deus tem preferências e, nesse sentido, faz discriminação entre as pessoas e os povos.
Acresce o facto de se perceber, através desses textos, que o principal ou o único motivo da suposta eleição é um ato da vontade divina.
«Que havemos de concluir? Que há injustiça em Deus?» (Carta aos Romanos 9, 14). Está, então, legitimada a questão sobre o amor divino: Deus ama a todos? O amor de Deus é incondicional?
Não podemos ignorar que a Bíblia usa a linguagem de uma determinada cultura humana, dentro de um tempo histórico concreto.
O que a Bíblia apresenta como privilégios ou eleições, na realidade precisa de ser entendido como responsabilidades. Por exemplo, quem conhece a Deus há de estar (mais) comprometido em dá-lo a conhecer aos outros.
Há textos bíblicos que pertencem à teologia nacionalista que pretende apoderar-se de Deus como seu único povo: «Israel é o povo de Deus, por Ele libertado. Deus é o Deus de Israel que lhe dá normas éticas muito concretas e reserva, para Ele, um dia inteiro todas as semanas, o Sábado» (Bento Domingues, Público de 7 de março).
Alguns salmos, refere Frei Bento Domingues, «são poemas fantásticos em qualquer tempo e em qualquer lugar». Contudo, há outros «tão nacionalistas» que mereciam uma «poda» de modo a purificá-los do «elogio dessa religião nacionalista» para fazer deles «uma oração universal».
A Escritura, que é Sagrada por ser de inspiração divina, está condicionada pelas estruturas de pensamento das pessoas que elaboraram os textos, pelo que o conteúdo expressa apenas os conhecimentos desses humanos.
É essencial, na leitura bíblica, ter presente as ‘linhas de fundo’ que urdem os vários episódios numa única peça. O cristão lê cada relato acompanhado por essas ‘linhas’, sendo que, para nós, se trata do Deus revelado em Jesus Cristo.