
Encontro
24 de Dezembro de 2020
Confiança
26 de Dezembro de 2020O primeiro olhar pode ser o início de um grande amor. Onde há amor, há um olhar! Sem dúvida que o modo como olhamos condiciona os pensamentos, influencia a qualidade da nossa vida. O Natal é a festa do humano. Do humano, mas a partir do olhar de Deus. Deus olha a partir daqueles que nos parecem menos humanos, aqueles e aquelas a quem tantas vezes excluímos da festa da humanidade.
OLHAR
A História da Salvação desvela-se numa aproximação progressiva de Deus ao ser humano, de modo mais explícito a partir de Abr(a)ão, o pai dos crentes convidado a levantar os olhos. E à medida que Deus se aproxima, o ser humano tem a possibilidade de se ‘deixar ver’ e também de ‘ver’ a Deus. Um verdadeiro intercâmbio de olhares!
A aproximação do divino ao humano chega a uma jovem, filha de Israel, natural de Nazaré: Maria. Nela, o Verbo de Deus faz-se carne, humanidade frágil. Nela, a carne é envolvida pela glória divina: a imagem e semelhança do princípio encontram a sua profundidade plena em Jesus Cristo, Deus nascido de uma mulher.
Em Jesus Cristo, o Filho, é-nos dado um irmão, é-nos concedida uma insólita paternidade: a divina. Somos filhos de Deus; não somos escravos nem marionetas de um falsificado deus.
O primeiro olhar pode ser o início de um grande amor. Onde há amor, há um olhar! Sem dúvida que o modo como olhamos condiciona os pensamentos, influencia a qualidade da nossa vida.
José Saramago, na epígrafe do Ensaio sobre a cegueira, recorda: «Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara». Natal é tempo de reparar, com o olhar divino, a partir dos olhos de um recém-nascido. Desde o seu nascimento, Jesus Cristo quer ser o terapeuta do nosso olhar.
O Natal é a festa do humano. Do humano, mas a partir do olhar de Deus. Nós preferimos valorizar os bonitos, os fortes, os poderosos, os inteligentes… os ricos. Deus olha o humano noutra perspetiva. Deus olha a partir daqueles que nos parecem menos humanos, aqueles e aquelas a quem tantas vezes excluímos da festa da humanidade.
A festa do humano, segundo os evangelistas, é inaugurada com uma convocatória enviada, em primeiro lugar, aos que habitam as ‘periferias’: os excluídos (pastores) e os que ‘não são dos nossos’ (magos). O Natal, a festa do humano, é desafio a converter o nosso olhar, a reparar naquilo que é verdadeiramente e profundamente humano.
O lugar da morada de Deus descobre-se, como diz o poema de José Tolentino Mendonça, quando nos dispomos a olhar o ser humano com o primeiro assombro: «Queres saber o lugar da morada de Deus? Volta a olhar o homem pela primeira vez. Pois o Verbo de Deus acampou entre nós».