Não se perturbe o vosso coração
7 de Maio de 2020A alegria partilhada
9 de Maio de 2020QUINTO DOMINGO DA PÁSCOA, ANO A
De repente, tudo ficou ainda mais fugaz. Primeiro, obrigados a fugir, a ficar ‘escondidos’ e limitados ao espaço da nossa casa. Estamos perturbados. Queremos uma solução. A nível pessoal e comunitário, não sabemos o caminho.
Corações ao alto
Ao sentir a pressão do medo e da incerteza, ficamos perturbados. Será que alguém vai encontrar uma solução? Na procura, podemos cair no erro de ‘ver’ apenas soluções terrenas. Será que temos fé nas palavras de Jesus?
«Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. [...] Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente» (Papa Francisco).
Agora, sentimo-nos em mar agitado. Tu continuas a dizer-nos: «Não se perturbe o vosso coração»!
‘Conheceis o caminho’
Ao contrário de desejos mais efémeros e, portanto, passíveis de serem saciados, a busca da felicidade (sentido para a vida) deixa-nos sempre insatisfeitos. Acresce que, além de insaciados, também nos pode deixar medrosos. O medo de arriscar e de perder os pequenos ‘prazeres’ já conquistados. O medo de fazer outras escolhas, percorrer outros caminhos.
Por estes dias, no que diz respeito ao combate ao coronavírus, o que mais ouvimos é que enquanto não houver vacina, não poderemos voltar à normalidade. ‘Normal’ entende-se fazer o mesmo que antes da pandemia.
Ávidos e absorvidos pela pressa do ‘normal’, parece que nos esquecemos de duas coisas fundamentais: primeiro, que esse normal nunca mais volta; segundo, reconhecemos um ‘mundo doente’, e queremos voltar ao mesmo, perder a oportunidade de encetar a renovação.
Jesus Cristo, no evangelho, lembra que já conhecemos o caminho. De que é que estamos à espera? Ainda estamos como Filipe à espera de uma solução mágica ou que outros façam o que nos compete para mudar de rumo em direção a Deus?
A janela da compaixão e misericórdia
Esta ‘série’ pascal, ‘Sem medo!’, convida-nos a abrir uma janela de ar fresco e saudável. Hoje, abramos a janela da compaixão e da misericórdia: «não se perturbe o vosso coração».
Diante dos sonhos falidos podemos ficar de tal modo perturbados que nos sentamos resignados a chorar o tempo perdido. Mas também podemos arregaçar as mangas como ‘pedras vivas’ dispostos a construir uma nova vida, uma nova paróquia ao estilo de Jesus Cristo.
Precisamos de um ‘plano para ressuscitar’, como propõe o Papa Francisco: discernir como fazer palpitar a «vida nova que o Senhor quer gerar neste momento concreto da história». Quais são as ‘misérias’ da nossa vida pessoal e comunitária que precisam de ser transformadas?
A compaixão e a misericórdia não são atitudes passivas. Elas implicam uma ação, seja em relação ao próprio, seja em relação aos outros. Permitem-nos olhar a vida pessoal e comunitária com amor e ver a tão grande possibilidade de ir em frente no caminho de renovação.