O esforço da vossa caridade
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17 de Outubro de 2020VIGÉSIMO NONO DOMINGO, ANO A
Interpretada à luz da fé, a nossa história pessoal e coletiva recebe o seu verdadeiro significado. O ser humano contém a imagem e a inscrição divina: pertencemos a Deus. Só Deus merece o nosso cântico de ação de graças e a dedicação da nossa vida.
‘O esforço da vossa caridade’
Na célebre resposta deste trecho do evangelho, Jesus Cristo não faz uma oposição entre religião e política, entre Deus e o dinheiro. Alguém é que usou esta resposta para criar uma separação destes âmbitos complementares da nossa condição humana.
Somos irmãos, concidadãos da comunidade humana. E alguns também somos concidadãos da comunidade cristã. Uma e outra não se opõem, nem se substituem; estão interligadas, exigem uma da outra um equilíbrio saudável.
Ao contrário dos fariseus, que o disseram por provocação, nós acreditamos que Jesus Cristo é sincero, é o nosso único Mestre, que ensina o caminho de Deus.
Hoje, a resposta do Mestre traduz-se deste modo: como cristãos, temos direitos e deveres que precisam de ser vividos com sinceridade, segundo os valores do Evangelho, tendo em vista o bem comum, a fraternidade universal.
Há o direito e o dever de participar na vida da nossa terra, da nossa freguesia, do nosso país, da nossa Casa Comum. A Primeira Carta aos Tessalonicenses diz como o podeis pôr em prática: com «obras poderosas, com a ação do Espírito Santo», que manifestem «a atividade da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança».
Que ‘obras poderosas’ tenho eu permitido que o Espírito Santo realize no mundo através do ‘esforço’ da minha caridade? Quando foi a última vez que uma minha boa ação transformou a vida de outra pessoa?
Este ano pastoral, sob o lema da caridade, agora com a mais recente Carta Encíclica do Papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social, dá-nos pistas para o ‘esforço’ da nossa caridade, a partir da parábola do bom samaritano (cf. Lucas 10, 25-37). Detemo-nos no momento em que, diante do moribundo, o samaritano «chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão».
O samaritano viu naquele homem um irmão e agiu em conformidade com o seu coração aberto à fraternidade. Para nós, cristãos, a indiferença nunca é uma opção. A única opção cristã é ver (a situação concreta da realidade) e agir (segundo os valores do Evangelho).
Coração que vê e atua
A caridade é o sinal mais eloquente da nossa ‘imagem’ e ‘inscrição’ divina. Para nós, não é mera filantropia ou assistencialismo, ter um bom coração. É o nosso vínculo ao amor divino que nos impele, até exige, a realizar todas as obras de misericórdia. Por isso, podemos dizer que todos os nossos atos de bondade são a nossa melhor resposta diante da revelação do amor de Deus.
O testemunho da nossa fé, a manifestação ativa da nossa adesão a Jesus Cristo, torna-se visível no ‘esforço’ da nossa caridade. O amor é o rosto da nossa fé e o sustento da nossa esperança.
O nosso programa de vida só pode ser este: um coração que «vê onde há necessidade de amor, e atua em consequência» (Bento XVI).