Semeador generoso
14 de Julho de 2023Reintegrar
28 de Julho de 2023DÉCIMO SEXTO DOMINGO, ANO A
Nós somos assim: uma parcela de terra semeada de bem e infestada de ervas daninhas. O trigo e o joio crescem juntos no nosso coração. Deus é paciente e compassivo, espera o momento certo para a nossa conversão. Pode ser hoje!
“Deixai-os crescer juntos até à ceifa”
A generosidade do semeador continua patente neste fragmento do evangelho segundo Mateus, mais um pedaço do décimo terceiro capítulo. Estamos no discurso das parábolas, o terceiro dos cinco grandes discursos com os quais o evangelista organizou a sua narrativa sobre Jesus Cristo.
Surpreende a atitude do semeador: sem pressa na erradicação do joio. É o mesmo semeador, que, no ‘episódio’ anterior, apesar das várias possibilidades de fracasso, insiste em lançar as sementes, porque sabe que algumas podem germinar e dar fruto.
O semeador e os servos rejeitam o joio, mas as reações são diferentes: enquanto os servos pretendem arrancar o joio de imediato, o semeador prefere que joio e trigo cresçam juntos até à altura da ceifa. Não interessado no joio, o semeador está muito mais focado em preservar o trigo.
Jesus Cristo aprecia as sementeiras de trigo. Uma pequena espiga de trigo é mais importante do que a quantidade de joio espalhada pelo campo. Deus não tem pressa: «Deixai-os crescer juntos até à ceifa». É um Deus que sabe esperar, não por ser frouxo, mas por ser amor, porque só sabe amar. E o amor é paciente. A paciência brota do coração de Deus como uma extensão do seu amor. A paciência, escreveu o Papa Francisco, é exercício da misericórdia e manifesta o verdadeiro poder de Deus.
Conviver com as sombras
Um amor tão forte, que é incapaz de perder qualquer fragmento de bem que esteja a germinar no terreno da nossa vida. O bem contém a grandeza da semente de mostarda, a capacidade do fermento no meio da massa. É belo acreditar neste Deus paciente, cheio de bondade e de misericórdia para connosco!
Jesus Cristo ensina-nos a focar a atenção no bom e no positivo que Deus semeou em nós. O joio é secundário. Decisivo é preservar o trigo. A pressa pode causar mais estragos do que benefícios. Por isso, é tão importante aprendermos a conviver com as nossas sombras.
A paciência é uma atitude essencial para a transformação da nossa vida, é a primeira condição para o sucesso da nossa transfiguração. A paciência favorece a lucidez no conhecimento de nós mesmos, as sombras e as luzes.
Não ignoramos o joio, mas estamos mais empenhados em fazer aumentar a pequena porção de bem e de positivo que também há em nós. «A nossa consciência clara, iluminada, sincera, deve, antes de mais, descobrir aquilo que de bom, belo, positivo e prometedor Deus semeou em nós e cultivá-lo, guardá-lo, alimentá-lo. E louvar, agradecer e fazer com que dê fruto. […] Porque se eu não vejo a luz em mim, não a verei em ninguém» (Ermes Ronchi). Pode parecer pouco ou demasiado pequeno, mas aquilo que de bom e de positivo existe em nós, com a graça de Deus, é suficiente para crescer e frutificar, é sempre útil para levedar e aumentar com eficácia.