A cultura do cuidado
26 de Dezembro de 2020Sagrada Família de Jesus, Maria e José, Ano B
26 de Dezembro de 2020SAGRADA FAMÍLIA, ANO B
Fé, fidelidade, confiança: três palavras com a mesma raiz e significados semelhantes. Exprimem uma atitude muito presente nos textos bíblicos, tanto como propriedade divina, como característica humana do crente.
‘Acreditou no Senhor’
A disponibilidade de Maria e a obediência de José tornaram possível esta família pela qual o Filho de Deus assume a condição humana. Jesus Cristo nasce numa família normal daquela cultura e daquele tempo. Será conhecido como o filho do carpinteiro. O evangelista refere que «o pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados», a propósito das declarações de Simeão. Estavam apenas a cumprir as prescrições da Lei; depois, voltaram para casa, em Nazaré da Galileia.
A vida quotidiana é o ‘lugar’ da experiência do divino e do crescimento espiritual. Não há que esperar manifestações mirabolantes ou milagres extraordinários. Trata-se de experimentar o encontro com Deus na cadência habitual dos nossos dias. É a melhor maneira de encontrar o propósito de vida e a presença viva e atuante da graça divina.
Na Carta Apostólica por ocasião dos 150 anos da declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja, um dos atributos usados pelo Papa Francisco para descrever este «homem da presença quotidiana discreta» é o de «pai na obediência».
Os sonhos de Deus revelados a José ajudam-no a resolver o dilema perante a gravidez da esposa: «Com obediência, superou o seu drama e salvou Maria»; e depois a fuga para o Egito para proteger o Menino: «José não hesitou em obedecer, sem se questionar sobre as dificuldades que encontraria».
O Papa fala de ‘obediência’, palavra talvez estranha nos nossos dias, que expressa a fortaleza da fé e da confiança em Deus. Obedecer é acreditar: «Abraão acreditou no Senhor», diz a primeira leitura; pela fé, refere a Carta aos Hebreus, «Abraão obedeceu ao chamamento». Abraão é outro exemplo de quem reconfigura o que tinha planeado para seguir o seu propósito de vida.
O propósito de vida, como a fé, não é uma decisão que parte de nós para Deus. Não é dizer a Deus o que eu quero para a vida. A missão que me realiza no mundo vem das ‘mãos’ de Deus para o meu coração. «Mais importante do que dizer o que eu penso de Deus é saber o que Deus pensa de mim», disse um dia Eduardo Lourenço. O que Deus pensa de mim é o meu propósito de vida!
Confiança
A fé expressa a nossa disponibilidade para acolher a fidelidade de Deus (o Natal é o cumprimento mais surpreendente da fidelidade divina).
O amor de Deus é o nosso ponto de partida. «A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida» (LF 4).
O cristão não procura apenas a realização pessoal ou uma tranquilidade espiritual. O significado da vida, a missão que dá sentido à vida, está umbilicalmente unida à confiança em Deus, o Criador. Viver é deixar que Deus conduza a tua vida segundo o propósito que tem para ti, não é ‘usar’ Deus para alcançares o que te apraz. Confia!