Nunca sozinhos
24 de Abril de 2020Uma questão de amor
28 de Abril de 2020A partir do que existe (não a partir do vazio ou do nada, mas a partir do pouco que há) Jesus Cristo toma uma decisão para agir. E ao repartir, o que existe multiplica-se. Até ao ponto de, no final, haver sobras. Que fazer? Deitar fora? Não. Recolhê-las. Podem servir para outros ou para outra ocasião.
COMUNIDADE
«Onde encontraremos pães para dar de comer a toda esta gente?» (cf. João 6, 1-15). O evangelista quer evitar qualquer impressão de que Jesus Cristo não sabe o que fazer; por isso, depois da pergunta, esclarece: «dizia isto para os experimentar, pois bem sabia o que ia fazer». Não precisamos de dar um sentido transcendente a este esclarecimento. É próprio do bom animador ou líder ter as coisas pensadas. Mas isso jamais pode ser obstáculo para agir em comunidade.
Quer se trate de uma pergunta retórica, quer seja uma pergunta que procura a verdade na resposta, o certo é que Jesus Cristo, antes de atuar, consulta os membros do grupo, escuta a opinião. E fá-lo sem coagir, sem condicionar a resposta.
Não vos parece que podíamos fazer desta maneira? Se fosse esta a pergunta, não seria uma consulta, mas o anúncio do que tinha decidido. O Mestre, porém, deixa a resposta em aberto, sem condicionar: como é que podemos obter pães para que todos possam comer?
André, um dos discípulos, consciente da pobreza e da insuficiência da sua proposta, responde: «há um rapazinho com cinco pães e dois peixes». Embora a solução seja insuficiente, é sempre um bom ponto de partida para provocar novas procuras, para suscitar outras soluções, para começar um diálogo enriquecedor.
A partir do que existe (não a partir do vazio ou do nada, mas a partir do pouco que há) Jesus Cristo toma uma decisão para agir. E ao repartir, o que existe multiplica-se. Até ao ponto de, no final, haver sobras. Que fazer? Deitar fora? Não. Recolhê-las. Podem servir para outros ou para outra ocasião.
Eis um modelo de bom funcionamento de uma comunidade cristã. Os responsáveis, os que presidem, antes de agir, perguntam: Que vos parece? Como vamos fazer? E dão liberdade de resposta. A partir das respostas, que se vão enriquecendo umas às outras, toma-se uma decisão, que é de todos e, por isso, assumida por todos com gosto.
Quando se atua assim, seguindo o modelo de Jesus Cristo, a comunidade reflete um mistério de amor e de comunhão, o próprio mistério da Comunidade (Trindade). E o responsável, o que preside, não o faz a partir cima, nem de fora, mas de dentro, formando um círculo, porque ele não é o centro. O centro é Jesus Cristo.