Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo
3 de Junho de 2023Olhar com misericórdia
17 de Junho de 2023DÉCIMO DOMINGO, ANO A
Abramos bem os ouvidos à Boa Nova deste domingo: Jesus Cristo apresenta-se como médico que vem curar os doentes, não vem para os justos, mas para chamar os pecadores. Disponhamos o coração a tão magnífica misericórdia!
“Não vim chamar os justos, mas os pecadores”
Retomamos a leitura contínua do evangelho segundo Mateus. Vai acompanhar-nos até ao fim deste ano litúrgico. Este é o Décimo Domingo (Ano A), que nos recorda o momento em que Jesus Cristo chama Mateus para integrar o grupo dos discípulos.
Mateus era publicano, isto é, cobrador de impostos, uma profissão indigna para os judeus. Na verdade, em várias passagens dos evangelhos, ficamos com a sensação de que publicano e pecador são sinónimos. A profissão de Mateus não é, portanto, um detalhe insignificante. Aliás, o narrador acrescenta que Jesus Cristo se sentou à mesa com «muitos publicanos e pecadores». Àqueles que estranham tal atitude, o próprio Mestre confirma o alcance da sua missão: «não vim chamar os justos, mas os pecadores».
A conversão de Mateus é fruto de um encontro e de um chamamento. Se olhasse apenas para si e para a sua condição, talvez ficasse exatamente no mesmo sítio e a fazer o mesmo de sempre. Ou então, se já soubesse alguma coisa sobre aquele Mestre, talvez pensasse que não era digno de ser discípulo. Mateus deixou-se seduzir pelo olhar de Jesus, abriu-lhe o coração, acolheu o convite, levantou-se, seguiu Jesus Cristo. Aconteceu uma grande festa: primeiro no coração de Mateus; depois à mesa com muitos amigos.
Para alguns, é um escândalo ver Jesus chamar um cobrador de impostos. Para piorar tal atitude, ainda se sentou à mesa com pecadores. O verdadeiro escândalo, porém, é não ser capaz de aceitar a bondade amorosa de Deus. O maior pecador é quem, de um forma ou de outra, pretende condicionar a misericórdia divina.
Cheio de misericórdia
A misericórdia é o nome de Deus, é seu principal atributo. Ao comentar o episódio deste domingo, São Beda Venerável afirma que Jesus viu Mateus «não tanto com os olhos do corpo, como com o seu olhar interior, cheio de misericórdia». É assim o nosso Deus!
Ser cristão é a resposta ao olhar cheio de misericórdia. Precede-nos o olhar de Deus. «A fé é a nossa resposta à espantosa descoberta de que fomos escolhidos» (Timothy Radcliffe). Semelhante ao que dissemos, no primeiro episódio desta ‘série’, precisamos de aprender a reconhecer o divino olhar misericordioso, que atravessa o nosso coração com a plenitude do seu amor.
«Jesus não procura em mim o justo, o homem justo que não sei se alguma vez conseguirei ser. Procura aquela debilidade que em mim é radical, original, frontal, fatal. Quer apoderar-se da minha debilidade profunda, daquela que está na origem de todos os meus pecados. E quer encarnar aí como fermento, como sol, como fogo, como espírito dentro da argila, como paz na tempestade» (Ermes Ronchi).
Quando percebemos que Deus nos vê com um olhar cheio de misericórdia, então a nossa vida pode mudar, atrevemo-nos a viver imersos na vida de Deus.