Por outro caminho
4 de Janeiro de 2020Deus não faz aceção de pessoas
9 de Janeiro de 2020A experiência do amor pode ser tão profunda até amar a existência do outro para além da morte. Isto leva-nos à essência verdadeira do amor humano, feito à imagem do Amor que é Deus: amo-te, amo-te a ti, porque eu sou assim. E por isso ser-te-ei fiel para além da morte. Só assim é que o amor aponta para a eternidade.
AMOR
Até nas suas formas mais elevadas, como pode ser a relação conjugal, existe uma maneira muito utilitária de entender o amor.
«Amo-te, porque tu és assim», ou seja, amo-te, porque há algo em ti que eu gosto, que me atrai, que me deixa satisfeito, que me completa. Mas a perfeição do amor não está no «amo-te, porque tu és assim», mas no «amo-te, porque eu sou assim». É o amor incondicional.
O Deus cristão é Amor em plenitude e perfeição, é incondicional. Jesus Cristo revelou o Amor como relação e comunhão intratrinitária. O Pai ama o Filho, pelo que o Pai é, e não por causa do que pode obter do Filho. E o Filho ama o Pai, pelo que o Filho é, e não pelo que pode receber do Pai.
Não seria concebível que o Pai e o Filho dissessem um ao outro: «amo-te, porque tu és assim». Este tipo de amor, por muito sublime que seja, é um amor utilitário, egoísta. O Pai e o Filho amam-se mutuamente pelo que cada um é em si mesmo. Cada um é amor incondicional.
Acontece o mesmo na relação de Deus connosco: amor incondicional, não pelo que temos ou somos, mas porque é Amor. O contrário seria uma forma de egoísmo, autossatisfação.
Deus ama «porque é assim», não pode senão amar, está inscrito nas entranhas do seu ser. Ama-me como sou, não me ama pelo que eu sou. A razão do seu amor está nele próprio. Deus ama-me, porque é Deus.
Deus é iniciativa de amor para com a sua Criação, porque é, em primeiro lugar, iniciativa de amor em si mesmo entre vários. Se Deus nos criou à sua imagem, então temos de dizer que nos criou como iniciativa de amor.
«Amo-te, porque tu és assim» tem uma busca de interesses ou de complementaridade psicológica. Além disso, é um amor precário. Não dura. No melhor dos casos, dura até à morte. Assim se apresenta, normalmente, o amor entre esponsal: ser fiel até que a morte os separe.
A experiência do amor pode ser tão profunda até amar a existência do outro para além da morte. Isto leva-nos à essência verdadeira do amor humano, feito à imagem do Amor que é Deus: amo-te, amo-te a ti, porque eu sou assim. E por isso ser-te-ei fiel para além da morte. Só assim é que o amor aponta para a eternidade.