7 pistas de inspiração catecumenal
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11 de Maio de 2021A caridade está para além da justiça, supera-a e completa-a «com a lógica do dom e do perdão». O amor cristão, porque supera «aquilo que [ao outro] lhe compete por justiça», entra naquele âmbito que diz respeito ao dom e à gratuidade, à misericórdia e ao perdão.
CARIDADE
O amor cristão recebe, de modo apropriado, a designação de caridade. Contudo, temos de reconhecer que há um comum problema de compreensão sobre o termo caridade.
Há muitos, até entre cristãos, que associam e confundem caridade com esmola. Tomada em sentido depreciativo, esta associação remete para a tentativa de desculpar o incumprimento dos direitos que a todos são devidos por justiça.
O II Concílio do Vaticano, no número oito do Decreto sobre o apostolado dos leigos, ao reconhecer a necessidade de colocar o exercício da caridade «acima de toda a suspeita», exorta: «satisfaçam-se antes de mais as exigências da justiça, nem se ofereça como dom da caridade aquilo que já é devido a título de justiça; suprimam-se as causas dos males, e não apenas os seus efeitos; e de tal modo se preste a ajuda que os que a recebem se libertem a pouco e pouco da dependência alheia e se bastem a si mesmos».
A caridade, portanto, supõe a justiça; sem esta não é possível viver a primeira. Bento XVI deixou-nos uma reflexão paradigmática, no número seis da Carta Encíclica sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade: a caridade «nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é ‘dele’, o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir. [...] A justiça não só não é alheia à caridade, não só não é um caminho alternativo ou paralelo à caridade, mas é ‘inseparável da caridade’, é-lhe intrínseca».
Além disso, a caridade está para além da justiça, supera-a e completa-a «com a lógica do dom e do perdão». O amor cristão, porque supera «aquilo que [ao outro] lhe compete por justiça», entra naquele âmbito que diz respeito ao dom e à gratuidade, à misericórdia e ao perdão.
A justiça, por exemplo, pode obrigar um pai a dar o pão aos seus filhos, o empregador a remunerar os trabalhadores. Pode um tribunal obrigar alguém a ser generoso ou a perdoar?
Um dos melhores exemplos de caridade é proposto por Jesus Cristo, na parábola do bom samaritano (cf. Lucas 10, 25-37): uma pessoa dispõe do seu tempo e do seu dinheiro em favor de outra (supõe-se que até lhe era desconhecida), de livre vontade, sem esperar qualquer proveito próximo ou futuro. Assim é a caridade.