Um cântico de amor
1 de Outubro de 2020Terno e vivo amor
3 de Outubro de 2020VIGÉSIMO SÉTIMO DOMINGO, ANO A
A vinha continua a ilustrar a maravilhosa história testemunhada em toda a Escritura. «Um cântico de amor» descreve a relação de Deus com o seu povo, como a de um dedicado vinhateiro com a sua vinha: «lavrou-a e limpou-a das pedras, plantou-a de cepas escolhidas».
‘Um cântico de amor’
O texto do profeta Isaías é um poema de grande beleza, ‘um cântico de amor’. Em linguagem simbólica, descreve a desilusão e a esperança do enamorado: a desilusão brota da infidelidade alheia; a esperança é fruto do seu amor.
O evangelho, também em parábola, apresenta a mesma contradição entre as ações do dono da vinha, cheio de amor e dedicação, e as ações dos vinhateiros, cheios de injustiça e violência. A diferença está refletida nos verbos: o dono da vinha plantou, cercou-a, cavou, levantou, arrendou-a; os vinhateiros espancaram, mataram, apedrejaram, lançaram-no fora, mataram-no.
O amor é tão forte que continua a sustentar a esperança de bons frutos. É isto que nos vem do Senhor: não um castigo (apesar de merecido!), mas o amor que preserva a esperança da nossa conversão. É a entrega de Jesus Cristo na cruz!
Amor com amor se paga
Somos envolvidos pelo amor mais forte do que a morte, o amor da ressurreição. É por cada um de nós que Jesus Cristo oferece a sua vida.
Diz um adágio que ‘amor com amor se paga’. Que a nossa ‘paga’ ao amor divino seja uma vida de conversão pessoal e comunitária.
Precisamos de apostar numa cultura da caridade que seja mais do que uma questão de circunstância, que vá para além de uma assistência ocasional.
A caridade está no centro da mensagem cristã. Acreditamos em Deus que nos olha com amor, que perdoa, que permanece fiel ao seu povo, apesar de todas as nossas infidelidades e fugas. Deus, que é amor, sustenta a nossa vida: a relação pessoal de amizade com ele e a fraternidade com os irmãos.
‘Tudo isto veio do Senhor’
A nossa vida é um dom divino. Este é o primeiro ensinamento: ‘Tudo isto veio do Senhor’. Deus, esse vinhateiro apaixonado, jamais desiste de cada um de nós. Ama-nos sempre, continua a dar todos os dias provas da sua bondade para connosco.
Chamados a ser colaboradores, preferimos ousar ser donos, nem que seja à custa da injustiça e da violência. Esses não são frutos correspondentes ao amor!
Então, qual é a conversão que Deus espera de nós? Quais são os frutos que podem corresponder ao seu amor? Os frutos do amor fraterno.
A caridade reclama a nossa atenção, neste novo ano pastoral. Temos oportunidade, nesta ‘série’, de recordar o lema do nosso programa: ‘onde há amor há um olhar’. O objetivo é «viver intensamente a caridade para oferecer um rosto sinodal e samaritano à Igreja, que se faz próxima para cuidar e acompanhar como Jesus Cristo, Bom Samaritano».
Ao pensar na minha vida, pode ser que se encham os olhos de lágrimas e o coração se aperte de angústia. São muitas as vezes em que me esqueço dos frutos do amor. Mas, hoje, também posso abrir os olhos e o coração às razões da esperança: Deus ama-me e quer-me feliz na prática da caridade.