Humildade e alegria
25 de Setembro de 2020Vigésimo Sexto Domingo, Ano A
26 de Setembro de 2020O futuro da Igreja passa, como deseja o Papa, por apostar no discernimento sobre o caminho, conscientes de que «todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho».
IGREJA EM SAÍDA
A humanização do mundo, que está cada vez mais desumanizado e tão sobrecarregado de desprezo pelos mais frágeis, é a única maneira de concretizar a proposta do Papa Francisco de uma «Igreja em saída».
Em carta aberta ao Papa Francisco, o teólogo espanhol José María Castillo relembra que o núcleo da Igreja é sempre o Evangelho de Jesus Cristo, não uma qualquer forma de religião cristã com a fiel observância de ritos e normas.
Três pontos resumem a missão que o Mestre, na Última Ceia, confia aos discípulos: lavar os pés aos outros, como expressão do serviço a todos; partilhar o pão e o vinho, dons nos quais Jesus Cristo se torna presente como alimento de vida para o ser humano; acolher e pôr em prática o ‘mandamento novo’, que se traduz em amor mútuo.
A ‘novidade’ cristã não se diz no amar a Deus e amar o próximo, mas no amor mútuo: «que vos ameis uns aos outros; como vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto saberão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros» (João 13, 33-35).
O evangelho segundo Mateus, no episódio do «juízo final» descrito no capítulo 25 (versículos 31 a 46), confirma que a prática do amor mútuo é o (único) critério de avaliação da nossa experiência terrena: «Vinde, benditos do meu Pai [...]. Quantas vezes o fizestes a um destes meus irmãos mais pequenos, a mim o fizestes».
A «Igreja em saída» deixa de priorizar os ritos sagrados e os bloqueios causados pelas regras acumuladas ao longo de séculos para assumir a conjugação destes cinco verbos: «primeirear», envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar.
Há uma incompatibilidade entre a Religião e o Evangelho, defende José María Castillo, na missiva publicada na plataforma Religión Digital: a Religião centra-se no culto e no templo; o Evangelho dedica-se às pessoas, à humanização da vida.
O futuro da Igreja passa, como deseja o Papa na exortação sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (A Alegria do Evangelho [EG]), por apostar no discernimento sobre o caminho, conscientes de que «todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (EG 20-24).