Perder a sua vida
25 de Junho de 2020O ‘terceiro’ elemento
27 de Junho de 2020DÉCIMO TERCEIRO DOMINGO, ANO A
Nesta ‘série’, propusemos (re)começar a relação de amizade com Deus. O ponto de referência não está do nosso lado, mas do lado do próprio Deus, que nos mostra, em si mesmo, a dinâmica do amor como doação gratuita e incondicional.
Recomeçar
O evangelho, quando fala de amar a Jesus Cristo mais do que ao pai ou à mãe ou aos filhos, não está a contrapor diferentes contextos de amor, no sentido de que seja necessário eleger um e recusar os outros. O que nos indica, por exemplo, é que ser cristão não baseia numa segurança familiar, numa tradição que recebida de forma passiva, que pouco ou nada impacta a nossa vida.
Foquemos a nossa atenção nos fundamentos da nossa amizade a Jesus Cristo. Pensemos, por exemplo, na participação na eucaristia. Sinto necessidade da eucaristia, tanto ou mais do que o amor dos pais, dos filhos, dos amigos?
Aprendemos, nesta série, que os discípulos se tornaram testemunhas, porque viveram uma história de amizade com o Mestre. Uma amizade que transformou radicalmente as suas vidas. Pensemos no nosso melhor amigo ou a pessoa que mais amamos? O que seríamos capaz de fazer por ele/a? Faríamos o mesmo por Jesus Cristo?
O padre italiano, Giuseppe Berardelli, de 72 anos, morreu depois de recusar um ventilador que os paroquianos compraram propositadamente para ele. Cedeu o ventilador, referindo que deveria ser usado por alguém mais jovem. Deu a vida por Jesus Cristo.
‘Quem vos recebe, a mim recebe’
Hoje, valorizemos o lado positivo da cruz e de tudo o que implica renúncias e esforços ao longo da vida. Quanto nos transforma e nos pode ajudar a viver melhor! É a beleza do amor e da amizade.
A cruz é sofrimento, não há dúvida, aponta a morte. E também, sobretudo, é sinal de salvação, mostra até que ponto chega o amor de Deus por nós. Há maior prova de amizade do que dar a vida?!
O evangelho dá-nos outra chave para a reflexão sobre a amizade. Naquele tempo, um enviado deveria ser tratado como se fosse a própria pessoa que o envia: «Quem vos recebe, a mim recebe».
Quem acolhe os discípulos acolhe o próprio Jesus Cristo que, ao mesmo tempo, é o enviado do Pai. Somos capazes de ver em cada cristão (cada pessoa) o rosto de Jesus Cristo? Estamos a acolher os outros como se fosse o próprio Deus a surgir no caminho da nossa vida?
Acolhimento
Jesus Cristo apresenta-nos alguns tópicos para avaliar a nossa fé, a nossa amizade com ele: amá-lo mais do que tudo e todos; tomar a cruz para o seguir; praticar o acolhimento. A hospitalidade é marca indelével da identidade do crente.
«O ‘ato gratuito’ é um gesto que nos salva. Sabemos isso tão bem na vivência da amizade! O gratuito subtrai-nos à ditadura das finalidades que acabam por desviar-nos de um viver autêntico. A gratuidade é um viver mergulhado no ser. [...] Jesus é o Mestre do gratuito!» (José Tolentino Mendonça).
Acolher os outros e cuidar deles é uma prova visível da nossa amizade com Deus, que não ficará sem recompensa. O cuidado para com os mais ‘pequeninos’ há de ser o critério decisivo na prova final!