Escutar a voz que ressoa no silêncio
7 de Março de 2020O dom de Deus
12 de Março de 2020Converter-se é dar a volta, voltar as costas, purificar o olhar: deixar de se olhar, para ver as necessidades do próximo e questionar-se sobre a vontade de Deus para si e para os outros. Não é um movimento físico, é tarefa existencial, que é preciso constantemente renovar. O crente vive em permanente estado de conversão: está sempre voltando para Deus. Não é só uma decisão inicial, é um estilo de vida.
CONVERSÃO
O Papa Francisco, na mensagem para esta Quaresma (de 2020), une a escuta da palavra divina com a urgência da conversão.
Converter-se é mudar de atitudes e de pensamentos: o que costumamos pensar e fazer não favorece o ‘dinamismo espiritual’.
Converter-se é dar a volta, voltar as costas, purificar o olhar: deixar de se olhar, para ver as necessidades do próximo e questionar-se sobre a vontade de Deus para si e para os outros.
Não é como quando se dá uma volta e se deixa de olhar para uma coisa, como se dessa forma ficasse resolvido o problema. Dar a volta, no nosso caso, não é um movimento físico, é tarefa existencial, que é preciso constantemente renovar.
O crente vive em permanente estado de conversão: está sempre voltando para Deus. Não é só uma decisão inicial, é um estilo de vida. Com o amor acontece algo parecido: nunca acabamos de amar.
Amar é crescer continuamente no amor. Para se converter é necessário sentir-se atraído por uma realidade outra, ou, pelo menos, intuir que a realidade em que se está envolvido não é a melhor.
A conversão concretiza-se em atitudes diferentes, segundo a situação de cada um. Em qualquer caso, é um desafio a libertar-se dos costumes, das pressões sociais, das opiniões públicas, para adquirir formas concretas, no respeito aos pequenos e aos débeis, na compaixão pelos que sofrem, na prática do perdão, no abandono dos caminhos da violência, na dinâmica do servir e acolher a todos.
Antes de ser uma decisão pessoal, a conversão manifesta a tenaz vontade de Deus de não interromper o diálogo connosco, um diálogo sincero e fecundo, coração a coração, de amigo a amigo.
Não é uma chamada em abstrato ou vazia, mas um convite a entrar num mundo novo, a acreditar no Evangelho, a escutar a voz do Esposo, «deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade», a escavar dentro de nós para romper a dureza do coração, a deixar-se conduzir pelo sopro do Espírito Santo.
Na medida em que nos deixarmos envolver pela palavra divina, tanto mais conseguiremos experimentar a misericórdia gratuita de Deus. «Não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão»!