Todo-amoroso
21 de Outubro de 2023Filhos amados do Pai
4 de Novembro de 2023TRIGÉSIMO DOMINGO, ANO A
A relação com Deus e a relação com os outros implicam-se mutuamente. O amor a Deus conduz ao amor ao próximo, como o amor aos outros também nos conduz a Deus. Desta fonte de amor são irrigados o coração, a alma e o nosso entendimento.
“Amarás o Senhor teu Deus […]. Amarás o teu próximo”
A originalidade da proposta, neste fragmento do evangelho para o Trigésimo Domingo (Ano A), é a revelação de um único amor que abraça Deus e o próximo. Mais do que um mandamento, é um dom oferecido a quem se dispõe a ser discípulo de Jesus Cristo. Dito de outro modo, antes de ser uma obrigação, é uma proposta de fé e de felicidade.
Ser cristão é comprometer-se com estas duas faces do amor: «Amarás o Senhor teu Deus […]. Amarás o teu próximo». Ser cristão é optar por um processo de maturação, que nos faz passar da obrigação de cumprir um mandamento, para fazer do amor a fonte da vida, o fundamento da nossa condição humana: «com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento» e «como a ti mesmo». Deste modo, a prática do amor deixa de ser algo externo, que nos é imposta por um mandamento, para ser uma necessidade vital que configura, por inteiro, a nossa maneira de ser e de agir.
Se o amor continua a ser apenas um mandamento a que estamos obrigados, ainda estamos na posição dos fariseus. Essa era a única preocupação deles: a hierarquia dos mandamentos. Precisamos de perceber o amor como a origem e a base de todos os mandamentos, porque os mandamentos são válidos na medida em que nos ajudam a tornar concreto o amor a Deus e aos outros. O amor é a entrega que nos faz viver em comunhão com Deus e com os outros.
A revolução cristã
Um AMOR a descobrir, o propósito desta ‘série’, lembra a precedência amorosa de Deus em relação a cada um de nós. Somos amados de Deus, chamados ao amor. «Aos olhos de Cristo, o amor ao próximo, a escolha de amar e de crescer sem cessar no amor, não é um pré-requisito para ser amado por Deus, mas uma consequência da espantosa e alegre descoberta de já ser amado por Ele» (Irmão Emmanuel, de Taizé). Deus chama-nos ao amor; de nós depende a resposta agradecida e comprometida.
Como cristãos, acreditamos em Deus que faz irradiar sobre todos o seu amor, acreditamos em Deus todo-amoroso e é isto que nos compromete a refletir o amor divino no nosso quotidiano, a reconhecê-lo presente em cada ser humano que se cruza connosco nos caminhos da vida, como continuaremos a aprofundar nos próximos episódios.
O amor de Deus acompanha-nos e motiva-nos a transformar a nossa vida e o mundo. Eis a revolução cristã: amar os outros com o amor incondicional que recebemos de Deus, um modo de amar que vence o egoísmo e a indiferença, um modo de amar que é capaz de superar todas as diferenças e divisões e perceber em cada ser humano um irmão, imagem e semelhança de Deus. Esta é a maior transformação que pode acontecer em nós e nas pessoas que nos rodeiam. Amamos a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todo o entendimento, quando amamos o próximo.