Obedeceste à minha voz
25 de Fevereiro de 2021Pai na obediência
27 de Fevereiro de 2021SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA, ANO B
A Quaresma coloca-nos na ‘escola’ de Abraão: a escola da fé e da confiança. A Palavra do Pai é-nos dada para consolidar a nossa esperança. Agora, Deus fala-nos através de Jesus Cristo, seu «Filho muito amado». Escutemo-lo!
‘Obedeceste à minha voz’
O centro deste ‘episódio’ é a fé de Abraão. Mais do que a justificação histórica e cultural, tentemos acolher a verdade teológica de uma das cenas mais desconcertantes da Bíblia.
A relação entre Deus e Abraão não começa aqui; o relacionamento está já numa fase madura: Abr(a)ão já tinha saído da sua terra; a mulher estéril, Sa(a)ra, já tinha concebido e dado à luz o filho da promessa, Isaac. Apesar de todas as aparências contrárias, Abraão permaneceu fiel ao chamamento divino. Por que motivo haveria agora de pôr em causa a promessa, ou se quisermos, na linguagem desta ‘série’, por que razão iria desconfiar da Aliança?
Uma vez mais, diz Deus, ‘obedeceste à minha voz’. A maturidade da relação permite-lhe perceber que o pedido, apesar de paradoxal, não pode estar à margem da promessa. Por isso, obedece; não por uma fé ‘cega’, mas por ter experimentado, tanto no êxodo e na esterilidade, como na promessa e na sua concretização, que Deus esteve sempre presente.
Abraão mostra-nos que o principal sustento da sua identidade é a pertença a Deus. Como um resumo: Abraão só pode ser pai de Isaac, o filho da promessa, se não abdicar da paternidade de Deus, da sua própria filiação divina.
A provação faz com que Abraão tome melhor consciência do que é um dom, perceba o quanto é importante estar desprendido do que não poderia ter se não fosse fruto da promessa e do amor de Deus.
Eis a verdade existencial que nos compete ter presente também no nosso dia a dia. A provação ou o sacrifício não ficam guardados no coração como um trauma de algo que nos é roubado, mas como oportunidade para reconhecer que tudo, absolutamente tudo, está nas mãos de Deus.
Acresce que, para nós cristãos, este relato só pode ser lido e entendido à luz de Jesus Cristo, com o qual podemos discernir os nossos passos quotidianos. Sem anular as provações, Jesus Cristo, é o Bom Samaritano que cuida de todas as nossas ‘feridas’ com a dádiva do seu próprio sangue! Com Jesus Cristo podemos passar do monte da privação e do sacrifício para o monte da transfiguração, das trevas do Calvário para o brilho da luz pascal.
A provação
Uma renúncia, um ‘sacrifício’, é sempre uma provação, ostenta uma ferida. Aliás, se o amor não custa, se não trazes contigo as cicatrizes, é porque ainda não o experimentaste em pleno. Tem de ser assim?! Apenas te sei dizer que as provações nos fazem crescer e amadurecer. Não só na Quaresma!
Tu podes passar por este episódio e ficar bloqueado com a crueldade de tal pedido: «Toma o teu filho, o teu único filho, a quem tanto amas...». Experimenta substituir o nome de Isaac por Jesus Cristo. Ele é o Filho a quem o Pai tanto ama. Ele dá a vida por ti e por mim. Depois, repete a leitura e pensa em ti, nas tuas provações; e no infinito amor de Deus.