Desprezavam as suas palavras
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Misericórdia é outro nome para dizer a Aliança. Deus não julga, não condena; é o ser humano quem se condena, quando volta as costas à luz. A caminhada rumo à Páscoa ilustra os nossos desvios e a consequência do pecado. A salvação e a vida são uma escolha.
‘Desprezavam as suas palavras’
O Segundo Livro das Crónicas, no fragmento da primeira leitura, remete-nos para um dos acontecimentos mais dolorosos da história do povo bíblico: o exílio na Babilónia. Jerusalém foi invadida e destruído o seu templo; os líderes políticos e religiosos, com a maioria dos habitantes, foram levados cativos para a Babilónia. Porque é que terá fracassado a Aliança?
O cronista narra a história com base nas infidelidades das lideranças e de todo o povo. O exílio é consequência dos pecados e, mais ainda, por não terem escutado os apelos proféticos. Apesar de lhes terem sido dadas consecutivas oportunidades, preferiam escarnecer dos mensageiros divinos e «desprezavam as suas palavras».
Naquele tempo, como em grande parte do Antigo Testamento, subsistia a crença na lógica da retribuição, também na relação com Deus. Esta expectativa continuou no tempo de Jesus Cristo e ainda perdura na mentalidade de muitos crentes, infelizmente. A bênção é vista como fruto dos méritos humanos, do mesmo modo que se recebe castigo por causa dos pecados e infidelidades. Ainda assim, também se dá a conhecer outra leitura existencial, esta bem mais adequada à maneira do ser divino: a misericórdia.
Deus propõe o caminho do bem, mostra como se pode encontrar a verdadeira felicidade; ama cada um e, da parte do ser humano, espera acolhimento e resposta positiva ao seu amor. Em qualquer caso, a misericórdia divina não está condicionada aos nossos comportamentos, bons ou maus. A misericórdia jamais depende da nossa conduta moral ou prática religiosa.
O final do texto revela nova oportunidade, agora, talvez de modo inesperado, através de um rei pagão. Ciro é o escolhido de Deus para resgatar o povo da escravidão e devolver-lhe a liberdade no regresso a casa. Um pagão faz cumprir a promessa divina e restabelece a Aliança. Após setenta anos de exílio, recebem do rei da Pérsia, que entretanto se tinha apoderado da Babilónia, autorização para regressar à terra prometida: «Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho».
A misericórdia
Santa Teresa de Jesus dizia que quando há tempos ‘difíceis’, são necessários «amigos fortes de Deus».
Como pessoas e como comunidades, reconhecemos que estas circunstâncias, que estamos a atravessar, são bem difíceis e dolorosas. Sentimo-nos ‘exilados’. Fomos arrancados do nosso bem-estar, enfraquecidos nas nossas supostas seguranças.
Este episódio propõe quatro exercícios de conversão, bem apropriados para este tempo quaresmal: reconhecer as fragilidades; saborear a beleza da palavra de Deus; abrir-nos à misericórdia divina; viver mergulhados na alegria do amor. Experimenta-os. Verás como te tornas um desses «amigos fortes de Deus». Sem lamentações. Cheio de entusiasmo.